A “pós-verdade” está na moda. Ganhou até um verbete no Dicionário
Oxford de 2016, que a define como produto de “circunstâncias nas quais fatos
objetivos são menos influentes para determinar a opinião pública do que apelos
a emoções e crenças pessoais".
O ecossistema perfeito para sua reprodução seria a
internete.
Um exemplo de usuário dependente da “pós-verdade” seria Donald
Trump, especialista em fazer afirmações sem fundamentos. Não por acaso, recentemente
uma assessora dele chamou algumas mentiras divulgadas por seu governo de “fatos
alternativos”.
Mas a verdade é que há pouca novidade nisso tudo. E um artigo do sociólogo Muniz Sodré ajuda a demonstrar
isso. Em “Diversidade e diferença”, publicado na “Revista Científica de
Información y Comunicación”, em 2006, ele afirmava:
Você vê alguém com um turbante na cabeça e pensa
que já sabe tudo sobre ele, que é, por exemplo, árabe, logo, islamita, logo
investido de determinada disposição frente ao mundo. O racismo apresenta-se
geralmente como esse “saber automático” sobre o Outro. Os preconceitos
funcionam assim na prática...
É este “saber automático” que congela
a imagem ou a primeira impressão na forma de uma verdade absoluta. Impede que o
entendimento da realidade se transforme em um conceito que possa se abrir ao
debate. Fica preso no nível do pré-conceito.
É com base nesse mecanismo ideológico,
por exemplo, que a mídia estadunidense há anos vem transformando turbantes em símbolos de terrorismo. São este e muitos
outros “fatos alternativos” que permitiram a Trump chegar aonde chegou.
Portanto, a pós-verdade não passa do
velho preconceito. E a grande mídia ainda é sua maior divulgadora, nas redes
virtuais ou não.
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