Doses maiores

3 de janeiro de 2017

Uma nação que vive de suas mortes escuras

Em 2016, Nate Paker lançou o filme “O Nascimento de uma Nação”, dirigido e estrelado por ele. A produção estadunidense dramatiza uma rebelião de escravos ocorrida em 1831, que foi rapidamente massacrada e teve seus líderes enforcados.

O título do filme é o mesmo do clássico dirigido David W. Griffith, lançado em 1915. Mas, ao contrário de Parker, Griffith mostrava os negros como animais brutos e estupradores de mulheres brancas. Além disso, apresentava a Ku-Klux-Klan como uma organização de heróis justiceiros.

A trama dos dois filmes se passa no século 19, mas o racismo americano vem de data muito anterior. Já em 1776, a declaração da independência dos Estados Unidos descrevia os indígenas como seres “selvagens e impiedosos, que adotavam como regra de guerra a destruição sem distinção de idade, sexo e condições”.

As linhas acima foram escritas tendo como inspiração os ideais de George Washington, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, considerados “pais fundadores” da “América Livre”. E, de fato, é a essa tradição que a classe dominante americana é leal. Exemplos não faltam.

Bush considerou o furacão Katrina um castigo divino contra a população negra de Nova Orleans. Obama foi, no mínimo, omisso diante dos terríveis episódios de violência racista que marcaram seu governo. A eleição de Trump foi comemorada pela Klu-Klux-Klan.

Quando Griffith lançou seu filme, negros eram espancados, enforcados e queimados em macabros espetáculos públicos. Cem anos depois, Parker estreou sua produção num país em que os negros são oito vezes mais sujeitos a serem assassinados do que brancos.

A “América” branca e elitista só consegue trazer à luz incontáveis mortes escuras.

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