Este ano completam-se 150 anos da publicação do primeiro
volume de “O Capital”, 100 anos da Revolução Russa e 80 anos da morte de
Gramsci.
Esses três eventos fazem lembrar uma espécie de encruzilhada
teórica onde se encontraram Gramsci, a obra de Marx e os personagens principais
da revolução bolchevique, Lênin e Trotsky.
Ao saber dos acontecimentos de outubro de 1917 na Rússia,
Gramsci escreveu um artigo intitulado “A revolução contra O Capital”. O revolucionário italiano considerava a
façanha bolchevique uma negação das conclusões simplistas deduzidas das leituras
oficiais da obra-prima de Marx.
Segundo essa “receita”, revoluções socialistas somente
seriam possíveis em nações altamente industrializadas, como Inglaterra, França,
Alemanha. Países “atrasados”, como a Rússia, teriam que superar algumas etapas. Primeiro, industrialização
e democracia, a cargo da burguesia. Depois, socialismo e liberdade, conquistados pelos trabalhadores.
Contra essa formulação, Trotsky dizia que se a burguesia não
fosse capaz de cumprir as tarefas que lhe cabiam, o proletariado deveria assumi-las.
Era a Revolução Permanente. Demorou, mas Lênin acabou concordando com
Trotsky. Daí surgiu o vitorioso lema “todo poder aos operários, soldados e
camponeses”.
Muito provavelmente, Marx concordaria. Em 1881, uma revolucionária
russa escreveu a ele para saber se era possível evoluir da comuna rural russa ao
socialismo, sem passar pelo capitalismo. Marx e Engels responderam o seguinte:
Se a revolução russa tornar-se o sinal
para a revolução proletária no Ocidente, de modo que uma complemente a outra, a
atual propriedade em comum da terra na Rússia poderá servir de ponto de partida
para um desenvolvimento comunista.
É de saídas criativas para encruzilhadas como essas que costumam
surgir as revoluções.
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