Publicado em 1981, o livro “Não Verás País Nenhum”, de Ignácio
de Loyola Brandão, antecipa fenômenos com os quais só convivemos mais recentemente.
Por exemplo:
Como poderíamos chamar a essa nova
fórmula? Sistemas dissimuladores? Assemelham-se, porém não são. São, mas não se
assemelham. Um jogo de esconde. Como se entrássemos num labirinto de espelhos e
perdêssemos a imagem verdadeira. Ou todas as imagens à nossa volta dadas como verdadeiras.
Como chamar? Que tal “redes sociais”?
Na passagem abaixo, difícil não lembrar dos neoliberais
instalados nos governos:
...os tecnocratas adquiriram a
supremacia. Suas falanges ocuparam os postos sem dar tempo a ninguém de
adaptação. Romperam violentamente com os esquemas, se instalaram. Certos de que
o futuro era deles.
O cenário do começo do século 21 descrito pela obra é
desolador: “Acredita, nunca vi uma árvore de verdade na minha vida? Sempre
morei em São Paulo, nunca deu para viajar”.
Mas o livro também tem alguns momentos de esperança. Como
na passagem em que o personagem principal vê surgindo do solo ressecado pelo
aquecimento global uma “pequena e alegre planta”. Poderia ser “uma nova espécie
vegetal”, imagina ele. “A natureza alarmada desenvolvendo dentro dela um
processo de reconstituição. O poder de se recriar. Por que não?”
E conclui:
Me ocorreu que isso é a liberdade. A
capacidade de ressurgir continuamente, sob novas formas, revigorado. O processo
de se recompor, tombar e erguer nada mais é que tática, dissimulação. Um jeito
de enganar a morte, derrotá-la. Que a morte é simples estágio superável.
Realmente, vida sem liberdade é uma espécie de morte. Mas
é morte que pode ser revertida.
Leia também: Não verás futuro algum
Lembro do grande impacto desse livro já no lançamento para a minha juventude. Vivendo tempos finais de ditadura militar, greves operárias, surgimento do PT, exilados voltando. Eram tempos sombrios, mas de grandes esperanças. Hoje está mais para o sombrio. É, como dizem, tem obras que serão eternas.
ResponderExcluirTambém li nessa época, Marião. Concordo. Parecia muito pessimista para a época. Hoje tá mais pra realista.
ExcluirValeu!