O
historiador britânico Alexander Rabinowitch escreveu vários livros contando a
história da Revolução Russa. Um deles é “The Bolsheviks Come to Power” (“Os
Bolcheviques Tomam o Poder”), ainda sem tradução. Um dos trechos da obra afirma
o seguinte em relação ao Partido Bolchevique:
...gostaria de enfatizar a estrutura e
os métodos de operação internas relativamente democráticos, tolerantes e
descentralizados do partido, bem como seu caráter essencialmente aberto e de
massas - em marcante contraste com o modelo leninista tradicional.
Em outro momento, diz:
... em 1917, em todos os níveis da
organização bolchevique de Petrogrado, a discussão era livre e animada no
debate sobre as questões teóricas e táticas mais básicas. (...) não poucas
vezes Lênin foi derrotado nesses debates.
Ou seja, o historiador está dizendo que aquele que é
considerado o partido leninista por excelência não era assim tão leninista. Na
verdade, nem Lênin era.
O livro “O que fazer”, de Lênin, é considerado a
“receita” do partido leninista. Mas a obra é de 1902, quando as condições para
a militância eram as piores possíveis. Depois da Revolução de 1905, a situação melhorou
e Lênin escreveu uma resolução para o 3º Congresso do Partido afirmando que
"em condições políticas de liberdade, nosso partido pode e deve refazer
inteiramente as regras de funcionamento...". E foi mais ou menos isso que
aconteceu.
O mito do partido puramente leninista dirigindo a
revolução começou, mesmo, após a chegada dos bolcheviques ao poder. Em
especial, com a contrarrevolução stalinista. Mas, isso já é assunto para outro
momento. E a obra de Rabinowitch
certamente pode nos ajudar a entender esse processo.
Contradições. Alexander Rabinowitch destaca que em 1917 "(...) não poucas vezes Lênin foi derrotado nesses debates" precisamente para mostrar que "em todos os níveis da organização bolchevique de Petrogrado a discussão era livre e animada no debate sobre as questões teóricas e táticas mais básicas" e China Miéville no mesmo período de 1917 interpreta de outra forma o fenômeno das sucessivas derrotas de Lênin e da discussão livre e animada sobre as questões teóricas e táticas mais básicas": Lênin "estava completamente isolado. Mais, que isso, para seus camaradas era necessário que sua voz fosse silenciada. Sua mensagem não chegasse aos trabalhadores de Petrogrado, nem aos comitês bolcheviques de Petrogrado ou Moscou. E não porque pensassem que as propostas de Lênin seriam rechaçadas, mas porque poderiam ser aceitas." O debate interno livre e animado não era problema nem na época de maior repressão, exceto se pudesse ser ouvido por uma vizinhança governista e reacionária. A explicação: "E foi mais ou menos isso que aconteceu" não é uma explicação e sim uma justificativa sem a necessária e requerida explicação. Pela avaliação das contradições a explicação resultante deve ser outra: "E foi mais ou menos isso que NÃO aconteceu". Lênin se manteve como a Iskra ou a Centelha dentro do partido e este ora queria impedir, ora se deixava incendiar por tal iskra-software-mestre.
ResponderExcluirCertamente, há muitas explicações, mas o texto optou por não oferecer nenhuma. Quanto a "ser mais ou menos isso o que aconteceu" ou "mais ou menos isso que não aconteceu", as informações que tenho são a de que o partido abandonou, sim, muitas das características em condições políticas melhores, mas Lenin nunca mais voltou a teorizar sobre isso.
Excluirhttps://singularidadeabstrata.wordpress.com/2017/08/12/uma-possibilidade/
ResponderExcluirhttps://singularidadeabstrata.wordpress.com/2017/08/13/notas-a-uma-possibilidade/