Doses maiores

26 de março de 2019

A ideologia do participacionismo nos partidos digitais

Pawel Kuczynski
“Participacionismo” é como Paolo Gerbaudo chama o que ele considera ser uma poderosa ideologia dos partidos digitais, em seu livro “The Digital Party”.

Segundo ele, trata-se de um credo democrático radical que considera a participação e não a representação a fonte última de legitimidade política.

Baseia-se em noções de abertura, espontaneidade, transparência, autenticidade e intermediação zero. Valores profundamente influenciados pela tecnologia digital e sua cultura correlata.

Essa ideologia é perfeita para que Facebook, Twitter, Google, Youtube, Uber e Airbnb ganhem muito dinheiro. Já na esfera política, tende ao hiperindividualismo neoliberal, diz Gerbaudo.

Uma visão em que a participação individual se opõe ou desconfia da participação coletiva. Pessoas isoladas ou em pequenos grupos no lugar de associações, sindicatos ou partidos tradicionais.

Por outro lado, esse fenômeno pode criar uma "tirania de pessoas com tempo". Aquelas que têm a possibilidade e dedicação suficientes para se engajar em discussões qualitativas complexas. Geralmente, pouco preocupadas com sua sobrevivência.

Para ilustrar, o autor cita a “Lei da participação 1-9-90” de Jakob Nielsen: em qualquer comunidade, a grande maioria - 90% ou mais - é feita de usuários passivos. Cerca de 10% dos participantes são ativos, mas dentro dos quais apenas 1% é realmente atuante. Na Wikipédia, por exemplo, 0,003% dos usuários criam dois terços do conteúdo do site, exemplifica Gerbaudo.

Por fim, alerta o autor, a tomada de decisão é limitada por uma série de regras embutidas no design do software e nos processos de gerenciamento e moderação das discussões coletivas. E o círculo se fecha. Tais processos funcionam sob a lógica neoliberal dos novíssimos monopólios da informação.

Leia também: O “partido plataforma” e suas contradições

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