O Facebook é uma concha vazia, um recipiente que
adquire significado apenas por meio do conteúdo gerado pelo usuário que é
produzido por indivíduos interagindo nele.
Mas também funciona como um "aparente paradoxo", em que um "mecanismo estrito e
invariável (ditadura de meios) oferece uma heterogeneidade de usos autodirigidos
(liberdade de fins)".
As palavras acima estão em “The stack: on
software and sovereignty”, de Benjamin Bratton. A obra é citada no livro “The
Digital Party”, de Paolo Gerbaudo, ambos sem tradução.
A
análise ajuda a entender a lógica do Facebook. Por trás de maravilhas como compartilhamento,
descentralização e livre fluxo de informações, um mecanismo que direciona fortemente
a vida de bilhões pelo planeta.
Segundo
Gerbaudo, esse mecanismo “tem importantes implicações para o exercício do poder
em termos da centralização que facilita e das distorções inerentes às regras e
protocolos da plataforma”.
Resumindo, a adesão é voluntária e a participação é livre, mas ambas limitadas e
orientadas por algoritmos que são definidos por uma minoria e seus valores. Uma
centralização tão sutil, quanto poderosa.
O
fato é que produtos como o Facebook resultam da mentalidade típica do Vale do
Silício. Liberal em relação a costumes, mas fanática quanto aos imperativos do mercado.
E
são tais imperativos que transformaram a “concha vazia” do Facebook numa das mais
adequadas caixas de ressonância dos valores conservadores que vêm sendo impostos
pelo neoliberalismo há décadas.
Trump
e Bolsonaro no poder são símbolos perfeitos do sucesso dessa lógica. Se não pode
ser considerada o único fator determinante para a vitória deles, ela mostra que
cascas vazias também podem funcionar de forma colaborativa.
Leia
também:
O bode de estimação do Facebook
Perfeito!
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirAbraço!