Doses maiores

18 de março de 2019

O festival de falsidades e os monopólios da verdade

Em 14/03/2019, na revista Época, Helio Gurovitz abordou “O desafio da imprensa diante de Trump e Bolsonaro”.

Basicamente, tal desafio envolveria o combate ao festival de falsidades que gira em torno dos presidentes nomeados no título.

O colunista cita o livro “Don’t think of an elephant!” (Não pense num elefante!) do linguista estadunidense George Lakoff. Para ele, fatos são cruciais, mas:

...precisam ser emoldurados de modo adequado para que entrem no discurso público de modo eficaz. Acreditar que apenas apresentá-los de maneira competente basta para que o cidadão “acorde” é uma ilusão”.

Nos conservadores, exemplifica o linguista, as crenças derivam da imagem da família com pai rigoroso. Nos progressistas, da família com pais carinhosos.

Segundo Lakoff, “muitas das ideias que ultrajam os progressistas são o que os conservadores veem como verdade” e vice-versa. Referindo-se a Trump, Bolsonaro e seus aliados, afirma: “Eles não são estúpidos. Estão ganhando porque são inteligentes. Entendem como as pessoas pensam e falam.”

Por fim, o colunista transcreve alguns princípios úteis recomendados pelo linguista “para dialogar com vozes discordantes”.

...é preciso respeitá-las, ouvi-las, manter a calma e não entrar em gritaria, não adotar um tom de queixa, ser sincero e determinado nas próprias crenças, pensar e tratar não só de fatos, mas sobretudo dos valores — e evitar adotar a moldura do adversário ao rebater ataques. “Não use a linguagem deles. A linguagem seleciona uma moldura — e não será a moldura que você quer.”

Dicas importantes, sem dúvida. Mas que imprensa poderia adotá-las? Certamente, não a dos monopólios que se declaram isentos e objetivos, mas também defendem verdades interessadas.

Continua na próxima pílula.

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