Doses maiores

25 de março de 2019

O “partido plataforma” e suas contradições

Em seu livro “The Digital Party”, Paolo Gerbaudo afirma que:

Assim como o partido de massa refletiu a natureza e as tendências da sociedade industrial, o partido digital internaliza o modelo de plataforma popularizado por empresas como Google, Facebook e Amazon.

Por isso, o autor também chama essa nova organização de "partido plataforma". Um modelo partidário que procura reproduzir a lógica das plataformas das redes digitais em sua própria estrutura de tomada de decisões.

Tão "faminto por dados" como as corporações nascidas no Vale do Silício, o partido plataforma procura expandir constantemente sua base de dados e rede de contatos.

Essa configuração baseada na utilização da tecnologia digital proporcionaria uma nova democracia de base, mais aberta à sociedade civil e à intervenção ativa de cidadãos comuns.

Semelhante a uma “startup”, como Uber e Airbnb, teriam a mesma capacidade de crescer muito rapidamente. Um exemplo é o Movimento Cinco Estrelas, que, com menos de uma década de existência, tornou-se o maior partido italiano e atualmente integra o governo nacional.

No entanto, diz Gerbaudo, diferente do que dizem alguns de seus defensores, tal reestruturação organizacional do coletivo partidário não resultou em uma difusão radical do poder ou levou a uma situação na qual todos têm peso igual.

Uma das principais razões para isso é que o partido plataforma tende a deslocar a ênfase do conteúdo para o processo. Como nas redes virtuais, é fácil entrar e participar. E, como nelas, muito difícil entender do que exatamente se está participando e quais seus objetivos globais concretos.

Não à toa, o Cinco Estrelas descambou rapidamente para posições de direita.

Leia também: Antes do partido digital, o “partido televisão” e o partido de massas

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