A
pílula de ontem citou recomendações adotadas pelo colunista Helio Gurovitz para
que a imprensa enfrente as “vozes discordantes” que acreditam no festival de
mentiras que empesteia as redes virtuais. Seria preciso:
...respeitá-las, ouvi-las, manter a calma e não entrar
em gritaria, não adotar um tom de queixa, ser sincero e determinado nas
próprias crenças, pensar e tratar não só de fatos, mas sobretudo dos valores...
Certo,
tudo muito válido. Mas será que a imprensa que vem dominando a distribuição de informações
no mundo há décadas teria condições de adotar tal postura? Impossível.
Os
atuais monopólios de comunicação só sabem despejar seus produtos em larga escala.
Falta-lhes a capacidade de dialogar porque sua lógica é unidirecional.
Mas
é pior que isso. Tratar não só de fatos, mas sobretudo de valores, recomenda o colunista.
Para a grande imprensa isso equivaleria a admitir que defende certos valores. E
que eles são os dos poderosos. Da minoria.
Ou
seja, os instrumentos de comunicação melhor preparados para travar esse combate
são os alternativos. A extrema-direita já começou a trabalhar nisso há vários
anos. O resultado é óbvio.
Falta
à esquerda fazer o mesmo. Deixar de priorizar eleições para disputar cabeças e
almas. Parar de depender de estruturas sob controle estatal ou empresarial. Travar
a batalha da contra-hegemonia, que exige menos recursos financeiros e muito mais
trabalho cotidiano.
Só
quem tem uma visão de mundo radicalmente diferente àquela defendida por criaturas
como Trump e Bolsonaro pode derrotá-los.
Mas
é crucial para travar essa luta compreender o papel dos novíssimos monopólios de
mídia. Facebook e Google, principalmente. Fica para a próxima pílula.
Leia também:
Sergio, não sei, mas acho que a esquerda vem utilizando, e muito, os meios alternativos disponíveis na internet, tais como Facebook ou Watsapp. Vejo até pessoas que penso fazerem só isso o dia inteiro. Eu penso ser um problema de penetração. Eu, por exemplo, recebo um farto material de esquerda, e este pode até chegar às pessoas que não são de esquerda, mas não tem incidência. Foi a assim na eleição. A grande massa parece acreditar nas fake news da direita, e não em toda a elaboração possível e válida da esquerda. Aí o problema é mais embaixo, trata-se, como sabe, da dominação histórica dos valores e dominação ideológica da direita. Abraço.
ResponderExcluir"A grande massa parece acreditar nas fake news da direita, e não em toda a elaboração possível e válida da esquerda". No essencial é isso mesmo. A capacidade que a extrema-direita teve de atravessar as "bolhas", nós não tivemos, acho eu, porque os valores dominantes são esmagadoramente conservadores. Vou tentar discutir isso na pílula de amanhã.
Excluir