Doses maiores

19 de março de 2019

O combate às mentiras e aos monopólios da verdade

A pílula de ontem citou recomendações adotadas pelo colunista Helio Gurovitz para que a imprensa enfrente as “vozes discordantes” que acreditam no festival de mentiras que empesteia as redes virtuais. Seria preciso:

...respeitá-las, ouvi-las, manter a calma e não entrar em gritaria, não adotar um tom de queixa, ser sincero e determinado nas próprias crenças, pensar e tratar não só de fatos, mas sobretudo dos valores...

Certo, tudo muito válido. Mas será que a imprensa que vem dominando a distribuição de informações no mundo há décadas teria condições de adotar tal postura? Impossível.

Os atuais monopólios de comunicação só sabem despejar seus produtos em larga escala. Falta-lhes a capacidade de dialogar porque sua lógica é unidirecional.

Mas é pior que isso. Tratar não só de fatos, mas sobretudo de valores, recomenda o colunista. Para a grande imprensa isso equivaleria a admitir que defende certos valores. E que eles são os dos poderosos. Da minoria.

Ou seja, os instrumentos de comunicação melhor preparados para travar esse combate são os alternativos. A extrema-direita já começou a trabalhar nisso há vários anos. O resultado é óbvio.

Falta à esquerda fazer o mesmo. Deixar de priorizar eleições para disputar cabeças e almas. Parar de depender de estruturas sob controle estatal ou empresarial. Travar a batalha da contra-hegemonia, que exige menos recursos financeiros e muito mais trabalho cotidiano.

Só quem tem uma visão de mundo radicalmente diferente àquela defendida por criaturas como Trump e Bolsonaro pode derrotá-los.

Mas é crucial para travar essa luta compreender o papel dos novíssimos monopólios de mídia. Facebook e Google, principalmente. Fica para a próxima pílula.

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2 comentários:

  1. Sergio, não sei, mas acho que a esquerda vem utilizando, e muito, os meios alternativos disponíveis na internet, tais como Facebook ou Watsapp. Vejo até pessoas que penso fazerem só isso o dia inteiro. Eu penso ser um problema de penetração. Eu, por exemplo, recebo um farto material de esquerda, e este pode até chegar às pessoas que não são de esquerda, mas não tem incidência. Foi a assim na eleição. A grande massa parece acreditar nas fake news da direita, e não em toda a elaboração possível e válida da esquerda. Aí o problema é mais embaixo, trata-se, como sabe, da dominação histórica dos valores e dominação ideológica da direita. Abraço.

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    1. "A grande massa parece acreditar nas fake news da direita, e não em toda a elaboração possível e válida da esquerda". No essencial é isso mesmo. A capacidade que a extrema-direita teve de atravessar as "bolhas", nós não tivemos, acho eu, porque os valores dominantes são esmagadoramente conservadores. Vou tentar discutir isso na pílula de amanhã.

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