Doses maiores

27 de março de 2019

Os riscos para a democracia de base nos partidos digitais

O que era sólido nos partidos tradicionais, desmanchou-se no ar nos partidos digitais, afirma Paolo Gerbaudo em “The Digital Party”. O livro aborda organizações como o Podemos espanhol e o Cinco Estrelas italiano.

O autor compara os partidos digitais a empresas “startups”. Com seu pequeno “capital inicial” e equipe central enxuta, conseguem se movimentar agilmente, desorganizando o “mercado” e atraindo “clientes”.

O Cinco Estrelas, por exemplo, tem um “não-estatuto” e seu endereço oficial é o blog de Beppe Grillo, seu dirigente máximo. O mesmo a quem seus liderados se referem, muito contraditoriamente, como um “não-líder”.

Lideranças influentes, grandes sedes, regulamentos detalhados, corpos profissionalizados. Tudo isso deve ser abandonado. Simbolizariam opacidade, burocratização, falta de democracia e sigilo.

Já as estruturas locais, devem ser soltas, informais e em rede. Mas Jorge Lago, dirigente do Podemos, por exemplo, argumenta que essas instâncias não são um espaço para decisão, mas para ação. O grande risco está na velha separação entre decisão e execução.

O Cinco Estrelas começou a organizar seus grupos de base em 2005. Eram assembleias abertas, discutindo diferentes questões. Em 2013, o partido entrou no parlamento. Em 2015, os coletivos locais perderam poderes. Passaram a falar em nome do partido apenas seus representantes institucionais.

Nas atuais condições sociais, as pessoas estão mais relutantes ou ocupadas demais para participar de reuniões presenciais do que na era industrial. Nesse contexto, fragilizar grupos locais de debate e deliberação fragmenta a participação.

O processo decisório passa a depender do acesso individual a computadores e smartphones. Algo que pode ser desastroso para a democracia partidária. Afinal, não existe tecnologia neutra.

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