Doses maiores

18 de fevereiro de 2020

Itália: “eleições vermelhas” não barraram o fascismo

Mais um episódio do livro “M, O Filho do Século”, de Antonio Scurati.

Em novembro de 1919, as eleições italianas foram "vermelhas". Os socialistas obtiveram mais de 1 milhão e 800 mil votos, conquistando quase um terço do parlamento nacional. O triunfo seria um prenúncio da revolução.

Já o fracasso fascista foi inversamente proporcional: dos cerca de 270 mil eleitores de Milão, os fascistas obtiveram apenas 4.657 votos. Mussolini, somente 2.427 votos. Nenhum candidato fascista foi eleito. Nem ele. Um completo fiasco.

Nas ruas, os socialistas encenam uma procissão fúnebre. A multidão grita: "Eis o cadáver de Mussolini"

Roma, 1º de dezembro de 1919. Os parlamentares assumem seus mandatos. Entre eles, 156 deputados socialistas. Quase todos pela primeira vez. Muitos deles, filhos de humildes trabalhadores braçais.

Entra o rei Vittorio Emanuele Orlando para inaugurar a legislatura diante dos cerca de 500 representantes da nação. Todos ficam de pé e o aplaudem, gritando: "Viva o rei!"

Na ala esquerda do salão, ocupada pelos socialistas, ninguém se mexe. Permanecem sentados. Terminada a saudação ao monarca, eles se levantam e marcham para fora do parlamento. Seu líder, Nicola Bombacci, caminha à frente. Ao passar pelo trono, olha para o soberano e grita: "Viva a república socialista!"

A demonstração não impressiona Mussolini. Ao contrário. Para ele, o sucesso dos socialistas os esmagará. Eles prometeram demais na campanha eleitoral. Gritaram "vida longa a Lenin!". Agora, precisam fazer a revolução.

Diante da indefinição quanto a priorizar o caminho eleitoral ou a via revolucionária, os socialistas acabarão por se perder, aposta ele. Os acontecimentos dos anos seguintes mostrariam que, infelizmente, Mussolini estava certo.

Leia também: O alívio proporcionado pela bestialidade fascista

Nenhum comentário:

Postar um comentário