O sucesso de Bong Joon
Ho, com seu filme “Parasita”, na última edição do Oscar recebeu aprovação quase
unânime. Mas muito dessa recepção parece dever-se mais à qualidade da produção como
entretenimento de alta qualidade do que à crítica social implícita em sua trama.
Tornou-se lugar-comum
afirmar que o filme retrata a impossibilidade de ascensão social em uma sociedade
desigual como a sul-coreana. Uma realidade que só deixaria aos debaixo a
possibilidade de “parasitar” a riqueza dos de cima.
Mas um texto de Max
Balhorn, publicado pelo portal Outras Palavras, pode ajudar a ir além dessa constatação um tanto óbvia. Ele
afirma, por exemplo, que:
...o
que torna a crítica de Bong Joon Hon à vida sob o capitalismo tão condenatória
não é o mero fato de ele destacar as desigualdades, mas sua representação da
desmoralização dos trabalhadores sob o neoliberalismo de maneira geral. Presos
em eternos ciclos de pobreza, os Kim estão constantemente à procura de emprego,
um sinal de Wi-Fi grátis e uma maneira de escapar do cheiro de “trapo cozido”
que os marca como pobres...
Ao mesmo tempo em que fornece
informações importantes sobre a situação socioeconômica contraditória na Coreia
do Sul, Balhorn alerta:
O
fato de Parasita também ter se saído tão bem com o público do Ocidente sugere
que as condições descritas em Seul não estão tão distantes da realidade das
pessoas ao redor do mundo.
Por outro lado, pedindo
licença a Bong para utilizar sua metáfora de modo invertido, poderíamos dizer que,
no Brasil, os parasitas sempre se concentraram no andar de cima. Ainda que, ultimamente,
saiam diretamente dos esgotos.
Serginho, se entendi direito a frase "Mas muito dessa recepção parece dever-se mais à qualidade da produção como entretenimento de alta qualidade do que à crítica social implícita em sua trama." Vc acha que a apreciação ao filme se deve mesmo a "produção como entretenimento de alta qualidade"? Não vejo "Parasita", de jeito nenhum, e nem acho possível ser um filme de entretenimento para quem quer que seja. E nem acho de alta qualidade entendendo como plasticidade do filme. Por exemplo, "Coringa" é mais. Para mim ele é corrosivo, denso e caustico. Filme que está mais para cinéfilo que para um público mais amplo. A proposito, assisti todos os filmes que concorreram a melhor filme, mais o curta e o documentário da Petra. Pensei até em escrever sobre o Oscar, mas achei que estou falando muito de cinema ultimamente. Telegraficamente, assisti esses filmes sem saber que estavam concorrendo ao Oscar, por um motivo ou outro. Acho que a melhor seleção de filmes de Oscar que recordo. Três para mim se destacaram: "Coringa", "Jojo Rabbit" e "Parasita" (assisti nessa sequência, não é ordem de gostar). O resto vai de bonzinho, lugar comum e ruinzinho. E o Oscar para mim iria para... (rsss) "Coringa". Com muito aperto no coração porque gostei demais de "Parasita". Fiquei com "Coringa" porque achei ele mais fotográfico, plástico e exuberante. Critérios não muito de cinéfilos, ou talvez cinéfilos mais à esquerda, pois se fosse por eles, daria a "Parasita".
ResponderExcluirBom, eu já acho que a maioria viu no filme mais entretenimento que arte, vamos dizer assim. O próprio Bong diz que seu grande objetivo de seus filmes é prender a atenção do espectador do começo ao fim. E é esse o maior objetivo de qualquer obra de entretenimento. Agora, claro que ele faz isso sem abrir mão da crítica. Ainda assim, acho que boa parte desse teor crítico escapa para a maioria do público. Eu, por exemplo, que vivo procurando elementos desse tipo nos filmes, não atentei para o sentido mais forte do nome do filme. Quanto a Coringa, realmente é um filmaço. Difícil saber qual o melhor. Por critérios mais "cinéfilos" talvez Coringa. Sendo um pouco menos restrito, "Parasita".
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