Doses maiores

17 de fevereiro de 2020

O alívio proporcionado pela bestialidade fascista

Recém-lançado no Brasil, “M, O Filho do Século”, de Antonio Scurati, é uma biografia política de Mussolini.

Em certo momento, surge a pergunta: “Quem são os fascistas?”. Segundo Scurati, “Benito Mussolini, criador do movimento, considera a questão sem sentido”. “Somos antipartido! Somos antipolíticos”, diria. Afinal:

O importante é ser algo que permita evitar os obstáculos da consistência, o peso dos princípios. As teorias e a consequente paralisia, Benito Mussolini, de bom grado, as deixa para os socialistas.

Os Fasci não têm ideia do futuro, não sabem para onde ir. Mas esse defeito será sua salvação, não sua condenação.

Os fascistas não querem reescrever o livro da realidade, apenas querem seu lugar no mundo. E eles terão isso. É apenas uma questão de promover o ódio sectário, de exacerbar ressentimentos. Então nada será impossível. Não há mais esquerda ou direita. Só é necessário alimentar certos humores que emergem neste crepúsculo da guerra. Nada mais. Isso é tudo.

Eles podem e devem, portanto, se dar ao luxo de serem reacionários e revolucionários de acordo com as circunstâncias. Eles não prometem nada e manterão sua promessa.

O problema teórico do programa político é resolvido erradicando-o como uma erva daninha: os fascistas só precisam da ação, qualquer tipo de ação. Então tudo é simplificado. Nesses momentos, quando o pensamento é liberado para a ação, a vida interior é miniaturizada, reduzida aos reflexos mais simples, move-se do centro nervoso para a periferia. Que alívio...

É isso o que muitos procuram hoje. O alívio da bestialidade política. Um sentimento tornado tragicamente possível pelas disparidades econômicas e pela barbárie social do capitalismo.

Leia também: As tropas do fascismo estão prontas

2 comentários:

  1. "O fascismo não é uma igreja, é uma academia de ginastica; não é um partido, é um movimento; não é um programa, é uma paixão".
    "É vital um sortilégio hipnótico que permita fazere desfazer, afirmar uma ideia e seu oposto, convencer a si mesmo da verdade de algo mesmo conhecendo de maneira inconsciente sua falsidade... Em suma, é necessário duplipensar".
    Antonio Scurati, em M (de Mussolini) o filho do século...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa! Esta lendo também? Em uma entrevista Scurati diz que o fascismo não guia as massas, mas é por elas guiado. Intrigante...

      Valeu o comentário

      Excluir