Em um dos artigos do livro “Marx tardio e a via russa”, Teodor Shanin afirma que no final da vida, Marx ficava revoltado com leituras que atribuíam a sua obra uma visão evolucionista da história.
Segundo essas concepções, os modos de produção se sucederiam um após o outro: feudalismo, capitalismo, comunismo. Nesta ordem, sem variações.
Foi, principalmente, em seus escritos relacionados à Rússia que Marx procurou repudiar essa visão equivocada. É o caso da carta em resposta à Vera Zasulich, militante socialista russa. Ela perguntara se seria possível instaurar o comunismo na Rússia, sem que o país passasse por uma fase plenamente capitalista.
O parágrafo abaixo pode resumir a resposta de Marx:
A análise presente em O Capital (...) não fornece razões a favor ou contra a vitalidade da comuna russa. Mas o estudo específico que fiz a respeito (...) me convenceu de que a comuna pode ser o fulcro da regeneração social na Rússia.
As comuna russas, citada por Marx, eram organizações sociais locais muito comuns nas áreas rurais da Rússia. Nelas, os serviços essenciais eram administrados coletivamente.
Depois, no prefácio à segunda edição russa do Manifesto, ele e Engels afirmam que "se a revolução russa tornar-se o sinal para a revolução proletária no Ocidente, de modo que uma complemente a outra", então "a atual propriedade em comum da terra na Rússia poderá servir de ponto de partida para um desenvolvimento comunista".
Nada de história engessada em esquemas teóricos abstratos. Tudo depende da luta de classes. É isso que a ortodoxia marxista posterior desprezou até que, justamente na Rússia, os heterodoxos bolcheviques aprontaram uma revolução.
Leia também: Um Marx velho, cheio de novas ideias
Nenhum comentário:
Postar um comentário