Segundo Marx, na sociedade capitalista, o mercado é uma esfera pública regida pelos ideais de Liberdade, Igualdade e Propriedade. Mas o local de trabalho, onde o valor é realmente produzido, é um "lugar oculto".
Callum Cant descobriu isso quando começou a trabalhar em sua tese de doutorado sobre aplicativos de entrega. Havia muita literatura sobre eles, mas a realidade de sua produção era um mistério.
Diante disso, ele resolveu trabalhar para o aplicativo Deliveroo, de entrega de alimentos, em Brighton, Inglaterra. Sua experiência está no livro “Riding for Deliveroo”.
Depois de alguns meses, Cant começou a entender que os entregadores já tinham canais bem estabelecidos de comunicação e organização, abaixo da superfície.
Eles conversavam por Whatsapp, diariamente, sobre as condições de trabalho, ajudando uns aos outros, controlando as datas de pagamento, organizando jogos de futebol etc. Essas redes estavam completamente ocultas para todos, exceto para os trabalhadores.
O sistema de controle da Deliveroo foi construído com uma falha fundamental: ele automatizou o gerenciamento, mas o algoritmo criado para isso só foi capaz de fazer parte do trabalho.
Seu nome era “Frank”. Ele podia coordenar o processo de trabalho com incrível precisão e habilidade. Mas não podia disciplinar os trabalhadores como fazem os supervisores humanos. E a pessoa que o gerenciava ficava em um escritório central, sem ter controle das informações em tempo real, além da localização dos entregadores.
Consequentemente, era fácil adotar estratégias individuais de resistência. Frank não era um supervisor muito rígido. E isso era um problema para os patrões.
Mas, calma, os trabalhadores da Deliveroo também tinham problemas. E muitos.
Veremos na próxima pílula.
Leia também: O lugar estratégico dos entregadores na luta anticapitalista
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