Doses maiores

5 de abril de 2021

Guerra híbrida e anticomunismo reciclado

Em seu livro “O Brasil no espectro de uma guerra híbrida”, Piero Leirner diz que os militares vêm travando uma “guerra híbrida” contra a esquerda no Brasil, há cerca de meio século. Nela, diz ele, “não se desperdiça nada, a reciclagem é 100% garantida”.

O material que passa por esse reaproveitamento integral nada mais é que um anticomunismo secular, que jamais enfrentou qualquer ameaça séria de implantação de um regime comunista no País.

Foi sempre um artifício criado para justificar o combate mais feroz a toda tentativa popular de obter mais liberdades, conquistas sociais e igualdade econômica.

Leirner atribui ao Exército papel protagonista na reatualização dessa doutrina extremamente reacionária. Mas nas últimas décadas, surgiram aliados importantes com elaborações próprias. Por exemplo, Olavo de Carvalho e lideranças religiosas que a disseminaram entre as classes médias e as camadas populares.

A verdade, porém, é que, como ensinou Gramsci, o papel de toda ideologia dominante sempre foi exatamente este. Juntar os elementos díspares e contraditórios que estão espalhados no senso comum para combiná-los de forma a justificar uma ordem injusta, exploradora e massacrante.

Desse modo, engana-se quem acha que pode apelar aos pretensos valores democráticos de setores da classe dominante para ganhar aliados no combate a esse ódio ao povo disfarçado de anticomunismo.

Generais, Olavos e Malafaias não inventaram nada do que sai cuspido e sujo de suas bocas. Só matraqueiam aquilo que empresários, banqueiros, autoridades e outros escravocratas reciclados apenas sussurram em seus salões e palácios.

Pode até chamar de guerra híbrida, mas trata-se da velha guerra de classes em que só um lado está armado e matando.

Leia também: Em meio à guerra híbrida, o PT e suas serpentes

Um comentário:

  1. Realmente, me impressiona muito como o discurso de anticomunismo tem ressonância na mistificação dessa direita que os professa, e na recepção da massa que não tem a menor ideia do que se trata.

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