O “tardio” do título refere-se aos últimos anos da vida de Marx. Período que, segundo alguns biógrafos, teria sido marcado por ideais confusas, muito comuns entre idosos.
Mas como escreve Shanin, essa suposta senilidade nada mais era que a recusa do velho revolucionário alemão em se acomodar às próprias certezas. E entre estas, estava o desprezo que, na juventude, ele e Engels nutriam pela Rússia czarista. Ao contrário disso, no começo da década de 1870, diz Shanin:
...Marx tornou-se cada vez mais consciente de que ao lado da Rússia oficial retrógrada, que ele tantas vezes atacara como foco e guardiã da reação europeia, havia crescido uma Rússia diferente, de aliados revolucionários e acadêmicos radicais, cada vez mais envolvidos com seu trabalho teórico. Foi para o idioma russo que a primeira tradução de O Capital foi feita, uma década antes de ser lançada na Inglaterra. Foi da Rússia que vieram as notícias de ações revolucionárias, destacando-se ainda mais diante do declínio das esperanças revolucionárias na Europa Ocidental após a Comuna de Paris. Em 1870-1, Marx aprendeu russo sozinho com o propósito de abordar diretamente as evidências e os debates publicados nessa língua.
Ou seja, o veterano militante radical começava a farejar algo de incendiário nos ventos vindos das estepes eurasianas. Por isso, o livro dá ênfase à chamada “via russa”. Caminho pelo qual seguiremos nas próximas pílulas.
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