Doses maiores

30 de abril de 2021

Entregadores preparam-se para a hora da treta

Continuamos a comentar o livro “Riding for Deliveroo”, de Callum Cant. Agora, para falar do boletim que os entregadores do Deliveroo criaram em defesa de seus interesses.

Chamava-se “Roo rebelde”. Roo é o nome que o Deliveroo dava aos entregadores em seus comunicados. A prioridade era fazê-lo no formato impresso para incentivar sua entrega e circulação de mão em mão. A distribuição on-line acabou sendo iniciativa dos próprios trabalhadores.

Outra prioridade era publicar relatos de trabalhadores de todo o país. As principais contribuições vieram de seis cidades inglesas e de Glasgow, na Escócia. Mas também surgiram correspondentes na França, Alemanha e Itália.

Além do inglês, havia textos introdutórios nos idiomas mais falados na categoria, como bengali, português, francês, polonês e árabe.

Em janeiro de 2017, a circulação combinada, online e impressa, atingia cerca de 1.500 trabalhadores. Isso significava uns 10% da força de trabalho do Deliveroo britânico. O Rebel Roo estava em toda parte, preparando a rebelião.

O Deliveroo não tinha nenhuma obrigação de reconhecer os entregadores como categoria sindical. Mas, ao mesmo tempo, não havia restrições legais a ações grevistas.

Os trabalhadores não tinham auxílio-doença, férias e outros direitos. Mas também não eram obrigados a avisar aos empregadores sobre paralisações ou respeitar quóruns burocráticos para tomar decisões.

A democracia acontecia no local de trabalho e de forma direta. A inexperiência era compensada pela ausência dos problemas típicos dos movimentos burocratizados.

“De repente, diz Can, começamos a entender como as condições precárias podem ser uma fonte de força. Seria uma luta direta: patrões x trabalhadores”.

Enfim, tinha chegado a hora da treta!

Leia também: Os entregadores e a pesada retaguarda das lutas econômicas

2 comentários:

  1. Lembrei vagamente, por isso não vem detalhes, da importância que o Lenin dava a criação de um jornal. Na nossa era digital é até estranho pensar em um jornal impresso, mas entendo perfeitamente porque eles resolveram fazer assim, no farol fechado vejo ele passando de mão em mão. Eu ainda acho bom pensar em um jornal assim até para outras categorias de trabalhadores e propósitos. Nesse mundo da internet para alguma coisa chegar à mão dos trabalhadores ela tem que passar por tonelada de milhões de blocos que habitam esse ambiente, e pelo poder dos mensageiros/intermediários, dificilmente chega a informação que podem vir a interessar os trabalhadores. No jornal de mão em mão, isso é possível.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente. Boa colocação. Se não me engano foi Lênin que disse que o jornal é o andaime do partido e que um jornal sem partido até existe, mas um partido sem jornal, não é um partido. E o formato impresso aumenta a chance de ter que distribuir o material presencialmente, coisa cada vez mais rara, mas não só por causa da digitalização generalizada das comunicações. Mesmo antes, a distribuição jornais e boletins sindicais já era terceirizada pelas direções de estruturas burocratizadas.

      Excluir