O autor do livro “Davos Man” pode ter as intenções mais louváveis. Mas delas, o inferno capitalista está cheio.
São justas as denúncias que Peter S. Goodman faz dos ricaços que frequentam o Fórum de Davos. Mas ele atribui as maldades desses homens a eles próprios e não ao sistema que os criou.
Segundo Goodman, o capitalismo é “a forma mais avançada de organização econômica”. Só lhe faltaria “um mecanismo inerente que distribua com justiça os ganhos”. Uma responsabilidade de governos “operando sob um mandato democrático”.
Cita como exemplo a Grã-Bretanha, que teria reagido à depressão dos anos 1930, “construindo um modelo de bem-estar social que compartilhava os ganhos de seu poderio industrial”.
Mas foi a classe trabalhadora em sua luta contra a barbárie fascista que levou o capital a aceitar dividir uma fração de seus lucros. Mesmo assim, apenas durante um pequeno intervalo na história do capitalismo e em algumas poucas regiões do planeta.
Não há “mecanismo inerente de distribuição econômica justa” no capitalismo. A prova é exatamente a existência dos homens de Davos. Não há nenhuma grande contradição entre eles e o restante da burguesia mundial.
Bezos, Musk, Gates, Zuckerberg, Google, Uber apenas encontraram novas e mais sofisticadas formas de parasitar o trabalho de bilhões de pessoas. Foi o aprofundamento do capitalismo que possibilitou isso, não sua negação.
Goodman diz que “recuperar o poder do Homem de Davos não requer insurreição ou revolução”. Apenas “o uso ponderado de uma ferramenta que sempre esteve presente: a democracia”.
É o contrário. Contra a exploração mais radical, só a mais radical das resistências.
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