Doses maiores

24 de junho de 2022

A pandemia de Davos

O Homem de Davos emergiu do triunfo da Guerra Fria para saquear os avanços materiais da paz, privando os governos dos recursos necessários para servir seu povo.

Vendeu a austeridade como uma virtude e a impôs aos gastos sociais dos governos, cortando educação, habitação e saúde. Espalhou a ideia de que os países mais ricos do mundo não podiam fornecer assistência médica, educação e transporte público confiáveis. Forjou acordos de comércio internacional que geraram oportunidades magníficas para si mesmos. Atacou os sindicatos e transferiu o trabalho para países de baixos salários, enquanto rebaixava os empregos formais a trabalho precário. Desregulamentou o sistema financeiro, desencadeou uma crise financeira global e foi salvo com dinheiro público.

A caracterização acima é de Peter S. Goodman, no livro “Davos Man”, sobre os poucos ricaços que controlam a economia global. Mas ele não atribui todos esses problemas ao capitalismo. Ao contrário, afirma que desde que foi “sequestrado pelo Homem de Davos, o capitalismo não é realmente capitalismo”. Seria um “estado de bem-estar social dirigido para o benefício das pessoas que menos precisam”.

Ao mesmo tempo, Goodman considera que nada disso é inevitável. Afinal, diz, como toda crise, “a pandemia apresenta uma oportunidade para o público se mobilizar em busca de interesses mais amplos, revivendo o tipo de capitalismo que conhecíamos antes”.

Mas o próprio autor mostra como o vírus é utilizado pelo “Davos Man” como oportunidade para contornar regulamentações governamentais, impedindo a “distribuição justa dos ganhos econômicos”.

A verdade, porém, é que o Covid é só um elemento da verdadeira grande pandemia que precisa ser erradicada: o capitalismo.

Continua...

Leia também: A mentira cósmica dos Homens de Davos

4 comentários:

  1. Bravos! Gde síntese de um livro a ser lido.

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    1. Obrigado, mas, olha, não sei se recomendaria ler não. Tem dados e informações importantes, mas cai na ideia de que os tais homens de Davos "desvirtuam" o capitalismo, quando, na verdade, são o mais recente produto dele.

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  2. Então, Serginho, não gosto muito que mudem o sentido principal do capitalismo, tipo essa de “estado de bem-estar social dirigido para o benefício das pessoas que menos precisam”. Sim, isso é uma das decorrências do capitalismo, e uma das críticas morais que costumam ser feita a ele. Essa de “a pandemia apresenta uma oportunidade para o público se mobilizar em busca de interesses mais amplos, revivendo o tipo de capitalismo que conhecíamos antes”. Pelo que entendi existiria alguma possibilidade de reviver capitalismos passados? E ainda de interesse mais amplo? Complicado hem?

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    1. Mas é isso o que está escrito logo na primeira pílula dessa série. O autor está longe de ser anticapitalista. Como eu disse no comentário acima, ele acha que os tais homens de Davos "desvirtuam" o capitalismo....

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