Doses maiores

3 de junho de 2022

A globalização atravessada por muros

“Em novembro de 1989, o Muro de Berlim caiu. Sua demolição era o prenúncio do fim das fronteiras duras em todos os lugares, diz Frank Jacobs em recente artigo. Mas no final da Guerra Fria, continua ele, existiam apenas 15 muros que separavam os países uns dos outros. Hoje, há pelo menos 70 fronteiras muradas no mundo”.

Esse “Mundo Murado” é composto por nações que, em 2009, representavam apenas 14% da população mundial, mas ganhava 73% de sua renda. Já na região fora dos muros, vivam 86% da humanidade, que ficavam com apenas 27% da renda mundial.

A renda média mensal intramuros é de cerca de 2.500 euros. Fora, são 150 euros. Dinheiro compra qualidade de vida. Das 50 maiores cidades do mundo em termos de qualidade de vida, 49 estão dentro do muro. Cingapura é a exceção.

Alguns exemplos desses muros: a Zona Desmilitarizada entre Coreia do Norte e Coreia do Sul. Cerca de 3.100 km de muros na fronteira EUA-México, construídas desde a administração Clinton. A barreira da Margem Oeste, construída por Israel para isolar os palestinos. Os 99 “Muros da paz” em Belfast, na Irlanda do Norte. A Índia está construindo uma cerca de 4 mil quilômetros de arame farpado ao redor de Bangladesh. Nos últimos anos, os “muros de segurança” subiram em Cabul, Bagdá, Cairo e Síria. Jacobs cita também condomínios brasileiros, como o já antigo Alphaville, em São Paulo.

Esses exemplos mostram que as pretensa benesses da globalização capitalista jamais valeram para as populações pobres. Falta pouco para que fossos voltem a ser cavados em torno de velhos e novos castelos.

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