No livro “Vivendo nas Fronteiras do Capitalismo”, Denis O'Hearn e Andrej Grubačić relatam “alguns resultados inesperados do isolamento nas prisões”. Referem-se, especificamente, aos detentos confinados em pavilhões de segurança máxima.
Segundo eles, prisioneiros nessa situação viveriam experiências de “vida nua”, em que só o mínimo de subsistência é garantido pelas autoridades penitenciárias (comida, abrigo, entretenimento rudimentar). Essas mesmas circunstâncias também os isolam do consumismo capitalista e os afastam da influência da ideologia dominante.
Essa forma de despossessão radical levaria os encarcerados a uma situação de exílio no interior mesmo do isolamento a que já estão condenados. Condição propícia para o desenvolvimento do que os autores chamam de “produção exílica”. Esta envolveria desde o acesso a coisas como tabaco e materiais de leitura e escrita a atividades solidárias como música, narração de histórias e autoaprendizagem. Tudo viabilizado clandestinamente e pela criação de “espaços” autônomos com o uso criativo da linguagem e do tempo.
Para superarem seu isolamento, os prisioneiros frequentemente usam seus idiomas originais como código (irlandês, curdo, basco) e “sistemas de remessas” furtivos, mas engenhosos, para unir espaços autônomos e criar um único território solidário para além do controle das autoridades.
Nesse caso, “acordos de lealdade” ocorreriam entre os membros da comunidade exílica, familiares e a sociedade civil fora da prisão. Por outro lado, uma vez que as condições melhoram, as práticas comunitárias podem diminuir. Além disso, as autoridades penitenciárias podem introduzir privilégios e penalidades de forma a dividir os detentos.
Processos desse tipo, afirmam os autores, o historiador Carlo Ginzburg chamou de “comunismo prisional”.
Nas próximas pílulas, veremos alguns exemplos desse fenômeno.
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