“Homens-cobertor”. Assim eram chamados alguns militantes do Exército Republicano Irlandês encarcerados na prisão de Long Kesh, em Belfast. Como ativistas políticos, eles se recusaram a vestir uniformes de prisioneiros comuns e adotaram cobertores como roupas.
Mas não ficou nisso. Eles jogavam sua urina por debaixo das portas. Os guardas a empurravam de volta com rodos, à noite, para molhar seus colchões. Despejavam fezes pela janela, os carcereiros as jogavam de volta. Para radicalizar, passaram a espalhar seus excrementos pelas paredes e tetos.
Apesar dessa situação repugnante, a moral dos prisioneiros era elevada. Quanto mais despojados, mais debatiam, planejavam e formulavam respostas coletivas não só para enfrentar solidariamente as autoridades, mas para construir alternativas que se baseavam principalmente na comunicação oral.
Aprender irlandês foi fundamental porque os presos podiam se comunicar sabendo que os guardas não os entenderiam. No final de 1977, apenas alguns deles eram fluentes em irlandês. Em 18 meses, quase quatrocentos dominavam o idioma.
Isolados dos outros, os “professores” introduziam novas palavras gritando sua pronúncia e ortografia. Os prisioneiros escreviam nos pequenos espaços limpos de suas paredes, usando qualquer instrumento que pudessem arranjar, como um fecho de zíper. Eram práticas que só poderiam ter sucesso se todo o coletivo participasse.
Tudo isso aconteceu em 1978 e está no livro “Vivendo nas Fronteiras do Capitalismo”, de Denis O'Hearn e Andrej Grubačić. Para os autores, esse nível de solidariedade foi causado pela própria repressão carcerária. Particularmente, pelo completo despojamento das comodidades da vida imposto aos prisioneiros.
A seguir, a intensa produção cultural promovida pelos homens-cobertor em suas celas imundas, mas cheias de dignidade humana.
Leia também: O “protesto do cobertor” irlandês
Eu fico pensando como conseguiam fazer todos esses atos sem que houvesse uma ação mais contundente (solitária, espancamento etc) dos órgãos de repressão. Chega a ser patético devolverem as urinas para dentro das celas.
ResponderExcluirAs pílulas estão muito resumidas. Havia castigos físicos e outras penalidades. Esses prisioneiros ficam em pavilhões separados, em celas para apenas dois deles e com muito mais restrições que os outros. Então havia despossessão e castigos físicos juntos.
ExcluirDe novo, só consegui publicar como Anônimo...
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