“Propomos, como hipótese, a possibilidade de rachaduras estruturais no sistema-mundo capitalista, nos estados-nação e no sistema interestatal. Nelas, comunidades podem praticar a produção de espaços de fuga ou de ajuda mútua”. São os espaços exílicos, dizem Denis O'Hearn e Andrej Grubačić, em seu livro “Vivendo nas Fronteiras do Capitalismo”.
Segundo eles, esses espaços não são imunes à intromissão e vigilância estatais, especialmente durante os períodos de maior atividade, como as eleições. Mas, muitas vezes, são locais de refúgio do estado e da sociedade “civilizada”. Representariam não apenas uma fuga do poder estatal, mas também uma tentativa de saída da totalidade das relações hierárquicas que formam a economia-mundo capitalista.
Pessoas “civilizadas” consideram os indígenas “preguiçosos”. Ficam indignados com as colheitas “fáceis” que permitem aos nativos despender esforços em rituais culturais em vez de “trabalhar”.
A isso, os autores respondem com uma citação do antropólogo Terence Turner, estudioso dos kayapó no Brasil. Segundo ele, para entender sociabilidades existentes nas franjas do capitalismo, “seria melhor começar com a definição ‘antropológica’ de Marx e Engels em ‘A ideologia Alemã’, na qual a produção é compreendida não apenas como produção dos meios de subsistência, mas de seres humanos e famílias, relações sociais de cooperação e novas necessidades também”.
Fora do capitalismo, dizem O'Hearn e Grubačić, uma vez alcançada a subsistência, o centro da economia é a produção de pessoas e comunidades, muitas vezes por meio da alegria coletiva. Já o desenvolvimento capitalista, costuma ser a tentativa “de substituir a alegria pública pela produção de mercadorias”.
Resgatar a alegria pública. Derrotar a tristeza da produção capitalista. Eis um bom programa revolucionário.
Continua...
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ResponderExcluirBoa tarde. Muito bom, parabéns! A questão é que o capitalismo também produz alegria. Por exemplo, pelo consumo de entretenimento, mercadorias em geral, etc. rsrsrs Abraços
ResponderExcluirCerto, rss.
ExcluirMas eu diria que tal como sapatos, roupas, comida, etc, a alegria não é resultado de produção capitalista, mas efeitos colaterais, acidentais, da produção principal, que é a de lucros.
O velho Jorge, bibliotecário e serial Killer em “ O nome da Rosa” diria que Alegria é muito subversiva..,
ResponderExcluirSim. Boa lembrança. Segundo a trama de Eco, teria sido tema de um segundo volume da Poética de Aristóteles, convenientemente desaparecido por seu potencial subversivo em relação à sisudez conservadora da Igreja Católica.
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