Doses maiores

25 de janeiro de 2023

O arco-íris anticapitalista dos zapatistas

Em seu livro “Vivendo nas Fronteiras do Capitalismo”, Denis O'Hearn e Andrej Grubačić lembram que para reduzir sua dependência do Estado, os zapatistas criaram fortes relações com o “mundo exterior”. As organizações internacionais, e não as comunidades de base, fornecem a maior parte dos fundos necessários para a sustentação das infraestruturas comunitárias autônomas. 

Essa barganha exílica exige que os zapatistas sirvam não apenas à sua base, mas também a seus apoiadores. Tal situação viria a se refletir na “Outra Campanha”, anunciada em junho de 2005. A partir dela as declarações zapatistas já não visavam apenas os pobres, mas também um “arco-íris” de “outros”, incluindo os movimentos feminista e LGBTQIA+. Era um novo “acordo de lealdade”, dizem nossos autores.

Mas já havia precedentes. É o caso da Lei Revolucionária das Mulheres do EZLN, “imposta” pelas mulheres zapatistas em 8 de março de 1993 e frequentemente descrita como a “revolução antes da revolução”.

O'Hearn e Grubačić também ressaltam o surgimento do termo “capitalismo”, até então ausente nos pronunciamentos do movimento. Segundo o EZLN, a Outra Campanha veio para “nomear o inimigo, o capital, e o aliado deste inimigo, a classe política (...). E então, como alguém disse uma vez, teremos apenas conquistado o direito de recomeçar, mas teremos que começar por onde sempre se deve começar, por baixo”.

Infelizmente, a persistência da resistência zapatista não representa garantia de uma vitória final. Trata-se de uma fissura no sistema capitalista mundial que dificilmente será tolerada por muito tempo. Por isso, é urgente a criação de novos espaços exílicos ou seu equivalente.

Na próxima pílula, espaços exílicos em prisões.

Leia também: A força exílica da autonomia zapatista

3 comentários:

  1. Essas experiências de se criar alternativas de existência ao sistema capitalista sempre são muito ricas, aí existe um mundo de coisas para se pensar: limites físicos e temporais, embates ideológicos, alternativas de disputa etc etc e etc. Eu sempre entendi essas alternativas como existências por dentro do capitalismo, inclusive subsumido de uma forma ou outra a ele, fronteiras ou exílios está me parecendo ser a mesma coisa. Se não for gostaria muito de saber a diferença.

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    1. É também não entendi direito. Os autores parecem enfatizar o caráter dessas experiências como espaços localizados em fissuras do sistema capitalista. Como se estabelecessem uma relação de externalidade com ele. De qualquer jeito, achei interessante terem abordado também outras experiências, não tão conhecidas ou óbvias como a dos zapatistas. E o caso dos cossacos e das prisões de segurança máxima.

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    2. A resposta acima é minha, Sérgio. Não sei porque não estou conseguindo responder com meu login

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