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12 de janeiro de 2023

Beatificação e feminicídio

“Saiba quem são os beatos brasileiros que podem virar santo em 2023”, diz o título de uma matéria do Globo, publicada no final de 2022.

A lista dos candidatos à santidade é composta por quatro mulheres e um único homem. Este último, bendito fruto entre elas, é D. Helder Câmara, cuja biografia é marcada pela fundação da CNBB, muitas obras sociais e por sua luta pela democracia em oposição à ditadura empresarial-militar de 1964.

A lista das mulheres começa com a mineira Isabel Cristina Mrad Campos, assassinada em 1982 por um homem que tentou estuprá-la, em Juiz de Fora. Ela tinha apenas 23 anos.

Já a cearense Benigna Cardoso da Silva, mais conhecida como Menina Benigna, morreu ainda mais jovem, aos 13 anos. Moradora do sertão do Cariri, foi assassinada a golpes de facão em 1941, depois de resistir a um rapaz de 17 anos que tentou violentá-la. 

Morte parecida teve a Irmã Lindalva. Em 1993, ela foi assassinada com 40 golpes de facão por um homem que a assediava sexualmente. Já Albertina Berkenbrock, foi morta em 1931, em Imaruí, Santa Catarina. Com apenas 12 anos, perdeu a vida após uma tentativa de estupro por um funcionário da fazenda do pai dela.

Não é preciso destacar o que há de comum entre essas mulheres recentemente beatificadas. Para realmente se tornarem santas, é preciso que sejam aprovadas em outros critérios, incluindo a realização de milagres. Mas se a condição de vítima de feminícidio fosse suficiente para alcançar a santidade, faltariam nichos para exibir as santas brasileiras nas igrejas católicas pelo mundo. 

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