Em seu livro “Vivendo nas Fronteiras do Capitalismo”, Denis O'Hearn e Andrej Grubačić adotam como uma de suas referências teóricas o conceito de mutualismo de Piotr Kropotkin, anarquista russo que viveu na virada do século 19 para o 20.
Em 1988, o evolucionista Stephen Jay Gould escreveu um texto sobre as ideias de Kropotkin em relação ao papel da competição entre as espécies, popularizada por Charles Darwin.
Kropotkin passou cinco anos na Sibéria, logo depois da publicação de “A Origem das Espécies “. Como admirador de Darwin, afirma Gould, ele esperava observar muita competição naquele ambiente, mas raramente a encontrou. Em vez disso, havia muitas evidências mostrando os benefícios da ajuda mútua ao lidar com uma aspereza exterior que ameaçava a todos igualmente e não podia ser superada por mecanismos análogos aos da guerra e da luta de boxe.
Gould cita um trecho da obra “Ajuda Mútua”, de 1902, em que Kropotkin diz:
Há muita guerra e extermínio ocorrendo entre as várias espécies; mas também há tanto, ou talvez até mais, apoio mútuo, ajuda mútua e defesa mútua. (...) A cooperação é tanto uma lei da natureza quanto a competição.
Com base nessa elaboração, O'Hearn e Grubačić argumentam que contra as formas de organização e regulação social que tendem a separar as pessoas, surgem periodicamente comunidades que se unem para se proteger contra as crueldades da natureza, mas, principalmente, contra proto-estados, depois estados, por fim, contra formas capitalistas de regulação e opressão.
Algumas dessas iniciativas os autores chamaram de espaços exílicos. Seriam exemplos disso os zapatistas e o MST.
Voltaremos ao tema nas próximas pílulas.
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