Nos Estados Unidos, um afrodescendente é considerado negro mesmo que ninguém o reconheça como tal por sua aparência. No Brasil, acontece o contrário. Pouca gente lembra que o maior escritor brasileiro era negro. Machado de Assis chegou, no máximo, a ser reconhecido como “mulato”.
O padre José Maurício Nunes Garcia nem chegou a isso. Negro, o nosso maior compositor sacro permanece amplamente ignorado. O "Mozart brasileiro" era filho de um casal de escravos libertos e viveu de 1767 a 1830, no Rio de Janeiro, onde fez fama na corte, recém-chegada de Portugal.
O genial padre é responsável por 240 obras musicais. Mas há evidências de que teria produzido quase o dobro desse número. Apesar disso, os concertos de música clássica oferecidos a públicos populares não trazem suas obras.
Bastariam alguns movimentos da Missa de Santa Cecília, por exemplo. Certamente, encantariam as plateias tanto quanto Villa Lobos e Carlos Gomes. A música do padre negro não mostra influências aparentes da cultura de seu povo. Mas a beleza universal de sua obra é evidente.
Nada disso prova que o talento vence o racismo e abre seu caminho contra tudo e todos. É muito provável que não fossem tantos preconceitos, teríamos muitos outros Josés Maurícios. Assim como Machados, Limas Barreto, Aleijadinhos, Pixinguinhas, Paulinhos...
Há outro Mozart Negro na história da música. É Joseph Boulogne, o Chevalier de Saint-George. Mas sua história fica para uma próxima vez.
Saiba mais sobre José Maurício no site http://www.josemauricio.com.br
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É ótima a lembrança ao Padre José Maurício, autor do barroco brasileiro, grande compositor com infinitos recursos artísticos. Porém, gostaria apenas de dizer que nos círculos de música erudita José Maurício é muito conhecido e reconhecido como um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos, basta que você vá ao banco de teses em música da Unirio e UFRJ (isso para falar apenas no RJ) para constatar a quantidade de obras escritas sobre o mesmo. O Coro de Câmara da Pró-Arte e seu maestro Carlos Alberto Figueiredo inclusive já dedicaram um disco apenas à sua obra coral (fora outros muitos discos de outros grupos dedicados à obra de José Maurício). Acredito que os concertos de música "clássica" ao quais você está a se referir seriam os concertos mais "pop", que acabam por selecionar o repertório "consagrado" pelas propagandas de televisão e coisas do gênero, para que as pessoas (que no Brasil não tem acesso quase nenhum ao repertório de concerto) possam reconhecer os temas que estão sendo tocados.
ResponderExcluirQuero deixar claro que tenho total acordo com a crítica racial que você fez, porém, como sou músico de profissão e tive formação acadêmica quis tentar dar um panorama da obra de José Maurício.
Um abraço
É isso mesmo,Pedrinho. O desconhecimento sobre o padre genial entre a população em geral é enorme. Mesmo entre os que gostam da música de concerto. Seu panorama ajudou a confirmar essa injustiça.
ResponderExcluirAbraço e parabéns pela bela carrreira que você escolheu.
Bom dia Sérgio!Por favor me perdoe se com meu comentário vou parecer inoportuna ou arrogante,não é este o intuito e quero deixar claro que concordo com o que disse e com os comentários postados até agora.O que quero é sugerir uma pequena reflexão.
ResponderExcluirExistem algumas palavras que foram incorporadas ao nosso discurso do dia a dia e classificadas como "politicamente corretas",mas,sinceramente,acredito que atrapalham muito mais do que ajudam,na hora de formar uma idéia e um comportamento mais justo na sociedade e no indivíduo."Afrodescendente" é uma delas.A Africa é um continente imenso,que comporta culturas absolutamente diversas,um negro nascido nos Estados Unidos,assim como um branco,é Americano,cidadão Americano,se for nascido no Brasil,é cidadão Brasileiro.Um branco nascido em terras "Tupiniquins" não é chamado de luso-brasileiro só pq em sua remota árvore genealógica existem antescedentes portugueses.Se o branco é reconhecido socialmente como cidadão do país onde nasce,o negro não é pq? Ainda assim,se se quiser aplicar este termo,apoiado e defendido por alguns negros tb,que se tenha o cuidado de citar o lugar na África onde reside sua origem,do contrário é como dizer que todo brasileiro é portugues e todo americano ingles.Abraços,Anna Kaum.
É, estas nomenclaturas são complicadas. Mas só procurei respeitar o que defende a maioria da militância do movimento negro. Há até quem volte a defender o termo "preto", usando a expressao "povo preto", por exemplo. De qualquer maneira afrodescedente nas Américas diz respeito principalmente aos descendentes de escravos da África subsaariana. Não sei se seria viável começar a adotar termos como iorubás, haussás, bornos, baribas etc para nos referir a eles. Acho que ficaria ainda mais confuso. Enfim, as lutas e batalhas também acontecem em torno das palavras a serem usadas e suas implicações.
ResponderExcluirObrigado novamente pelo comentário!
Como disse,entendo porque o termo foi usado por vc e entendo a defesa dele pelo movimento negro,mas,numa análise mais profunda,se percebe seu uso como subterfúgio para mais preconceito e sectarismo.Quer outro termo "politicamente correto" que acaba servindo à um proposito "torto"no imaginário coletivo?"Deficiênte físico" ou "portador de necessidades especiais",porque parte da premissa da perfeição e que eu saiba,não há ser humano perfeito,nem física,nem emocionalmente e somos todos,nesta ou naquela situação,portadores de necessidades especiais.Abraços,Anna Kaum.
ResponderExcluirMesmo sendo negro deram um jeito de "embranquecê-lo" na foto. Brasil, um país que não é de todos.
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