As
sociedades indígenas são tribais ou comunais. Nelas, não há propriedade privada
nem divisão social do trabalho, não havendo, portanto, classes sociais nem luta
de classes. A propriedade é tribal ou comum e o trabalho se divide por sexo e
idade. São comunidades no sentido pleno do termo, isto é, são internamente
homogêneas, unas e indivisas, possuindo uma História e um destino comuns. São
sociedades do cara-a-cara, onde todos se conhecem pelo nome e são vistos uns
pelos outros diariamente.
Por
isso mesmo, nelas o poder não se destaca nem se separa, não forma uma instância
acima dela (como na política), nem fora dela (como no despotismo). A chefia não
é um poder de mando a que a comunidade obedece. O chefe não manda; a comunidade
não obedece. A comunidade decide para si mesma, de acordo com suas tradições e
necessidades.
Se não tem poder,
o que faz o chefe? O texto diz que ele exerce “três funções: doar presentes,
fazer a paz e falar”. Segundo Marilena:
A
doação de presentes é a maneira deliberada que a comunidade inventou para
impedir que alguém possa concentrar bens e riquezas, tornar-se proprietário
privado, criar desigualdade econômica e social, de onde surgem a luta de
classes e a necessidade do poder do Estado.
Quanto à fala, o
chefe a usa para manter a paz. Como a comunidade não dispõe de leis para resolver
conflitos, o chefe apela ao bom senso, aos costumes, à memória e à tradição.
Mas há outra função para a fala. É a Grande Palavra:
Todas
as tardes, o chefe se dirige a um local distante da aldeia, mas visível e de
onde possa ser ouvido, e ali discursa. Embora ouvido, ninguém deve dar-lhe
atenção e o que ele diz não é ordem ou comando obrigando à obediência. Que diz
ele? Diz a palavra do poder: canta sua força e coragem, seu prestígio, sua
relação com os deuses, seus grandes feitos. Mas ninguém lhe dá atenção. Ninguém
o escuta.
A
Grande Palavra tem significado simbólico: a comunidade lembra a si mesma,
diariamente, o risco e o perigo que correria se possuísse um chefe que lhe
desse ordens e ao qual devesse obedecer. A Grande Palavra simboliza a maneira
pela qual a comunidade impede o advento do poder como algo separado dela e que
a comandaria pela coerção da lei e das armas. Com a cerimônia da Grande
Palavra, a sociedade se coloca contra o surgimento do Estado.
Segundo o texto,
se o chefe tenta usar suas funções para criar uma forma separada de poder, ele
é morto pela comunidade.
É, parece que esses
povos têm muito a nos ensinar.
Leia também: Aos mestres indígenas, com carinho
Muito interessante! Não sabemos nada mesmo de comunidade...
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