Doses maiores

13 de abril de 2012

O dilúvio tupinambá e o desastre capitalista

Em seu livro "As 100 Melhores Lendas do Folclore Brasileiro", A.S. Franchini conta história do dilúvio tupinambá. Segundo a obra, os tupinambás acreditam numa entidade criadora de todas as coisas e seres vivos.

Seu nome é Monan e viveu entre as criaturas humanas, até que estas se mostraram más e injustas. Diante disso, provocou um enorme dilúvio de fogo. O texto diz que:

Até ali a Terra tinha sido um lugar plano. Depois do fogo, a superfície do planeta tornou-se enrugada como um papel queimado, cheia de saliências e sulcos que os homens, mais adiante, chamariam de montanhas e abismos.

Depois, entendendo que o castigo já surtira efeito, Monan mandou outro dilúvio. Desta vez de água, para apagar o fogo e revitalizar a terra. O mundo voltou a ser povoado.

Mas os indígenas continuam a ter muito com o que se preocupar. Agora, não se trata da ira de seus deuses. São só as terrenas majestades capitalistas. Só na Amazônia, está programada a construção de 24 usinas hidrelétricas. Cerca de 132 áreas indígenas devem ser inundadas.

Como resultado podemos ter nova destruição em larga escala. As montanhas e abismos que surgiram do fogo serão cobertos por lagos imensos. Tomados pela calma da morte de milhares de espécies afogadas. E pelo silêncio, invadindo lugares onde reinava o barulho vivo de animais e povos.

Não se sabe bem porque o mito do dilúvio aparece em tantas e diferentes culturas. Talvez, tenha a ver com os ciclos da natureza, envolvendo escassez e abundância. E com o fato de que o excesso pode ser desastroso tanto num caso como no outro.

No capitalismo não é assim que funciona. Sua abundância burra só consegue gerar mais escassez e destruição. O desastre é certo.

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Um comentário:

  1. bem interessante esse mito indígena. sobre essas figuras mitológicas presentes em diferentes sociedades, da pra especular muito, sobre se isso é um reflexo de um conteúdo apriorístico da mente humana, se decorre do tal inconciente coletivo de que fala Jung, ou adotando uma postura empirista podemos concluir como dito no texto que a crença se baseia mesmo nos ciclos da natureza... enfim, um prato cheio pra filosofia.

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