Doses maiores

19 de maio de 2014

A Copa e a impossível neutralidade das armas

Em 17/05, Joana Cunha, da Folha de São Paulo, entrevistou Rafael Alcadipani, professor da FGV e especialista em organizações empresariais. Perguntado sobre a necessidade de medidas contra a depredação de vitrines, concessionárias e caixas eletrônicos por manifestantes, ele respondeu:

Fica muito desagradável para uma marca ter policiais com escudos e cassetetes protegendo algum elemento de publicidade nas ruas, como totens alusivos à Copa do Mundo ou a fachada de seus estabelecimentos. Deixa evidente que o equilíbrio social está rompido.

Este raciocínio lembra o que costumava dizer o cientista político argentino Guillermo O'Donnell. Ele afirmava que a dominação burguesa diferencia-se das que a antecederam pela separação entre a classe dirigente e os meios de repressão que defendem seus interesses.

Realmente, os capitalistas não controlam diretamente as forças armadas e as polícias. O Estado faz isso por eles e, assim, aparece como uma instituição neutra. Um juiz cuja principal função seria manter o jogo em andamento. O problema é que o jogo tem regras que só favorecem um lado. O crescimento da desigualdade social que se espalha pelo mundo é prova inegável disso.

O governo federal já gastou R$ 49,5 milhões em armas “não letais”. Aquelas que mutilam e cegam, mas dificilmente matam. O armamento será usado pela polícia nas 12 cidades que sediarão jogos da Copa do Mundo.

O professor da FGV tem razão. Pega muito mal ver a PM protegendo vitrines e fachadas. Escancara o caráter de classe do Estado. Mas o aparato militar que está sendo montado para a Copa fará exatamente isso. E sob o comando de um partido nem um pouco neutro.

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