Doses maiores

5 de maio de 2014

A esquerda e a luta por liberdade sexual

“O AI-5 atrasou por anos o movimento gay no Brasil", diz o historiador James Green, da Universidade de Brown, Estados Unidos. A afirmação foi feita em entrevista a Tatiana Merlino, publicada pela Carta Capital em 29/04.

Green é fundador do grupo “Somos”, pioneiro na afirmação homossexual durante a ditadura militar no Brasil. Para ele, a decretação do AI-5, em 1968, não atingiu apenas a dimensão política da oposição ao Regime Militar. A época era de grande questionamento ao conservadorismo, incluindo a luta por liberdade sexual e de afirmação gay.

Green acha que não fosse a ditadura, “o mesmo tipo de organizações que existiam na Argentina ou em Nova York, organizações LGBT, feministas, também surgiriam aqui para forjar movimentos de questionamento do conservadorismo da sociedade brasileira”. Mas a intolerância com a diversidade sexual não era exclusividade da direita.

O entrevistado menciona um episódio vergonhoso. Uma organização da luta armada chegou a considerar a possibilidade de “justiçar” dois de seus militantes por serem homossexuais. Felizmente, o ato não se concretizou.

Os ativistas gays só conseguiriam se manifestar abertamente na época das grandes greves, no final dos anos 1970. Vários de seus coletivos apoiaram as lutas operárias, defendendo a inclusão do respeito ao trabalhador homossexual nas pautas sindicais. Claro que os sindicatos não lhes deram ouvidos.

Na verdade, a grande maioria da esquerda continua avessa a lutas envolvendo a liberdade e a diversidade sexual. No momento em que se exige a punição aos crimes dos carrascos da ditadura, esta deveria ser mais uma questão a diferenciar todos nós da direita. Ainda não é.

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