Doses maiores

22 de maio de 2014

O apocalipse nunca foi marxista

A grande imprensa continua dando destaque ao livro “O Capital no Século 21”, de Thomas Piketty. A obra costuma ser elogiada por desmentir tanto as promessas de prosperidade capitalista quanto o “apocalipse marxista”. Esta última expressão aparece no livro, mesmo que seu autor nunca tenha lido Marx.

Na verdade, é muito difícil encontrar previsões nos escritos marxistas, muito menos profecias e revelações. O mais próximo que Marx e Engels chegaram disso está no “Manifesto Comunista”. É a famosa descrição dos proletários como coveiros da burguesia. A imagem tem seus motivos. Coveiros não matam, apenas enterram.

O capitalismo teria um fim não apenas devido a suas próprias contradições, mas porque na História tudo chega a um fim. Ao mesmo tempo, Marx e Engels fazem o célebre chamado: “Proletários do mundo, uni-vos!”. Ajam, explorados! Mexam-se ou vocês também serão enterrados com o capitalismo.

A intenção não era tanto prever um desastre final, mas mostrar que a vitória do comunismo não seria inevitável. Por isso, a importância da ação humana. A necessidade de lutar. Afinal, o Manifesto é um genial texto de agitação.

Já “O Capital”, com seu caráter pesadamente teórico, priorizava a descoberta de tendências históricas, não fatos do futuro. Mesmo assim, a obra não deixa dúvidas: o sistema capitalista é insustentável como resposta às necessidades do conjunto da humanidade.

Estamos em plena crise econômica mundial e à beira de um colapso climático. Sofremos desastres ambientais em escala planetária. Envenenamos terra, água, flora e fauna. Já são alguns séculos de guerras ininterruptas. Mais de 840 milhões passam fome no mundo. Tudo isso acontecendo e o apocalipse é marxista?

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