No momento em que nossos
indígenas sofrem terríveis ataques a seus direitos, seria bom lembrar um livro
chamado “O Papalagui”, de 1920. Trata-se da tradução feita pelo alemão Erich
Scheurmann dos pensamentos de Tuiávii, chefe da comunidade da ilha de Upolu, em
Samoa, na Polinésia.
“Papalagui” em samoano quer
dizer “homem branco” ou “europeu”. Tuiávii admira os prodígios de que são capazes
os brancos. Mas também enxerga neles “loucos furiosos”. “Eles se matam”, diz
ele. “O sangue, o pavor, a destruição reinam”.
Em um de seus comentários
mais interessantes, o líder samoano diz:
A palmeira deixa cair as
folhas e frutos que estão maduros. Mas o Papalagui vive como se a palmeira
quisesse retê-los. "São meus! Não os tereis! Jamais deles comereis!"
Mas como faria então a palmeira para dar novos frutos? A palmeira é muito mais
sábia do que o Papalagui.
Também entre nós existem
muitos que possuem mais do que outros. É certo também que honramos o nosso
chefe que tem muitas esteiras, muitos porcos, mas é só a ele que honramos, e
não às esteiras e aos porcos. Estas coisas fomos nós mesmos que lhe demos de
presente, como alofa [retribuição], para mostrar-lhe o nosso contentamento,
para louvar a sua grande coragem, a sua grande inteligência. Mas o Papalagui o
que honra são as esteiras e os porcos em quantidade que seu irmão possui; pouco
lhe importa sua coragem ou sua inteligência. O irmão que não tem esteiras nem
porcos, poucas honras recebe, ou não recebe honra alguma.
Somos assim. Desonramos
pessoas e sua dignidade. Honramos esteiras vermelhas por onde desfilam porcos
engravatados.
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