Ninguém estudou os
linchamentos no Brasil tanto quanto o sociólogo José de Souza Martins. São mais
de 30 anos dedicados ao estudo do fenômeno.
Em 17/02/2008, Martins deu
entrevista sobre o assunto ao jornal Estado de S. Paulo. Naquele momento, ele
calculou em mais de 500 mil os que já haviam participado de linchamentos nos
últimos 50 anos no Brasil. A grande maioria deles, pobres, na condição de
vítimas e agressores.
Em outubro de 1996, o sociólogo publicou o artigo “Linchamento, o lado sombrio da mente conservadora”, na
revista “Tempo Social”, da USP. No texto, polemizava com quem considerava esse
tipo de “justiçamento” popular um embrião de movimento social. Para Martins,
essa iniciativa coletiva devia-se, pelo menos em parte:
...
à ampla desmoralização das instituições, especialmente a Justiça e a Polícia,
durante a ditadura. O governo militar interferiu ativamente nelas para
torná-las parciais e submetê-las às suas diretrizes políticas.
Seis anos depois, o governo federal
é ocupado por uma das muitas vítimas das torturas cometidas nos porões da
ditadura. Continuamos esperando que seja feita justiça em relação a esses atos, que são ainda piores que os linchamentos.
Estes últimos são resultado de explosões irracionais da ira popular, baseada no sentimento de impunidade. As torturas foram motivadas por uma racionalidade doentia a serviço do poder mais despótico.
Estes últimos são resultado de explosões irracionais da ira popular, baseada no sentimento de impunidade. As torturas foram motivadas por uma racionalidade doentia a serviço do poder mais despótico.
São 29 anos desde o fim da
ditadura militar e meio século de domínio por uma minoria violenta e racista. O
linchamento e a tortura permanecem como manchas escuras, sintomas de relações
sociais gangrenadas.
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celebra a chibata
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