Doses maiores

22 de fevereiro de 2019

A guerra de guerrilhas do clã Bolsonaro

Logo após demiti-lo, Bolsonaro divulgou um vídeo elogioso a Gustavo Bebianno. Mas o pronunciamento não apareceu nas redes virtuais dos bolsonaristas mais fiéis.

Ao contrário, reportagem de Daniela Lima, publicada na Folha em 20/02/2019, relata que filhos e pessoas próximas a Bolsonaro retrataram Bebianno como traidor, agente infiltrado, quinta coluna, conspirador aliado à “grande mídia”...

A conduta corresponde ao que diz Pedro Dória em artigo publicado no Globo, em 24/01/2019. Segundo ele, a estratégia digital do clã Bolsonaro busca alcançar objetivos muito claros. Um deles é:

...agir sobre as conversas, interromper o diálogo. Qualquer um que critique o presidente é imediatamente inundado de respostas, em geral ataques duros e com poucas palavras até para padrões do Twitter. E a enchente de respostas torna impossível filtrar no meio quais os comentários interessantes, quem de fato buscava o diálogo. Ataques sistematizados assim, nos quais a turba é orientada a apontar para uma pessoa e bombardear, correspondem a uma das formas modernas de censura. Cala-se não proibindo a fala, mas fazendo com que ela desapareça no ruído.

Mas o mais importante nisso tudo é “municiar de argumentos sua própria militância quando precisa lidar com críticas”. E, com isso, mantê-la “em constante estado de alerta”.

Ou seja, trata-se de manter um grupo de fanáticos em constante mobilização para travar uma espécie de guerra de guerrilhas. Tendo entre seus principais alvos não apenas a oposição, mas a grande mídia e outros setores da burguesia não totalmente alinhados ao governo.

Não temos nada a aprender com o fanatismo e as mentiras bolsonaristas. Mas alguma coisa sobre guerras de guerrilhas pelas redes, talvez.

Leia também: As famílias como hospedeiras de fake news

3 comentários:

  1. Enquanto alguns mais medrosos temiam o retorno do modelo de chumbo, com tanques, soldados armados até os dentes nas ruas prendendo arbitrariamente e centros de tortura, eu percebi que a guerra ideológica seria digital, a estupidez ou o lunatismo (religioso inclusive) a calar a racionalidade dos que se opõem.
    Resta saber como a esquerda deverá se organizar em rede, como a direita bolsonarista vem fazendo. Ou então, planejar outra forma. Mas a essa altura, qual será a outra alternativa senão encarar a situação via mobilização nas ruas?

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    1. Sim, Salete. O principal é a mobilização. Mas o acúmulo de forças para isso também tem que incluir a organização em rede e o domínio da linguagem de algoritmos para a neutralização do poder que a direita acumulou nos espaços virtuais.

      Abraço!

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    2. Sim, verdade. Nada melhor do que a soma dos fatores, o tecnológico e o coletivo, para tornar a resistência mais efetiva.
      Perfeito.

      PS: criei um blog, meio que variado, ainda desorganizado por ser novo, chamado maquinandopensamentos.blogspot.com. A foto de fundo é de minha autoria. Pode deixar lá seus comentários, críticas, discordâncias e sugestões.

      Abração!

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