Doses maiores

26 de fevereiro de 2019

Tempos da aceleração sem sentido

Parece inegável que vivemos tempos extremamente acelerados. Uma percepção que teria origem na frenética circulação da informação. Da informação, não do conhecimento. Este é produto da elaboração da primeira. Processo a que cada vez menos pessoas podem se dedicar.

E nem falemos da sabedoria, produto de uma compreensão da realidade que vai muito além de sua racionalidade. Exige um tempo ainda menos compatível com os atuais canais de comunicação, tão alucinantes na velocidade quanto superficiais na qualidade.

Uma explicação para este fenômeno tem raiz em um sistema econômico que recompensa a troca apressada de valores quantitativos e pune a reciprocidade ponderada de experiências qualitativas.

Essa lógica tem levado a reviravoltas tecnológicas tão frequentes que dificultam sua apreensão pela grande maioria. Por exemplo, do arado ao trator passaram-se uns 5 mil anos. Já da calculadora eletrônica ao smartphone, cerca de 70 anos. No primeiro caso, centenas de gerações. No segundo, algumas.

É o que alguns chamam de lacuna geracional, que vinha se alargando a cada ano. Agora, podem ser meses. Rapidamente tornam-se obsoletos não apenas saberes, mas ocupações. O mesmo mundo que impôs o trabalho como o sentido da vida, priva de sentido bilhões de vidas.

Daí o surgimento das mais variadas moléstias. As do corpo, mas principalmente as do espírito. As pessoais, mas perigosamente as sociais. E cada vez mais desastrosamente, as políticas.

Tudo isso diz respeito ao domínio da técnica sobre a vida. Mas em “Rua de mão única”, Walter Benjamin lembra que “a técnica não é dominação da natureza: é dominação da relação entre natureza e humanidade.”

Voltaremos ao tema, o mais rápido possível...

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