Doses maiores

6 de fevereiro de 2019

Apostar nas lutas contra a opressão capitalista

O governo Bolsonaro pretende secundarizar suas pautas conservadoras para avançar nas econômicas, dizem os jornais. A começar pela aprovação da Reforma da Previdência.

A pior resposta da esquerda seria espelhar essa pretensão limitando suas mobilizações às questões econômicas, em prejuízo de outras lutas igualmente importantes.

As chamadas políticas identitárias vêm sendo responsabilizadas por divisões dentro da esquerda. Pode ser. Mas não é verdade que as lutas feministas, antirracistas e em defesa da diversidade sexual estariam “tirando o foco da luta de classes”.

O fato é que não se responde aos males do identitarismo com mobilizações econômicas, mas com a luta contra a opressão capitalista.

Racismo, sexismo, homofobia não apenas fazem parte da luta de classes como são essenciais para a manutenção e ampliação da exploração. É o que provam, por exemplo, as remunerações bem mais baixas de negros e mulheres.  

Secundarizar lutas anti-opressão equivale a adotar o “economicismo” dos governos petistas, que via no estímulo ao consumo popular uma política de oposição às propostas desindustrializantes dos neoliberais.

Ao mesmo tempo, enquanto eram feitas altas apostas nos “campeões do capital nacional”, os setores humilhados, ofendidos e agredidos ficaram à mercê do fanatismo dos piores charlatães. Pentecostais ou não.

Perseguições e assassinatos de gays, negros e mulheres são tratados como algo a ser considerado em algum momento no futuro. Talvez, quando estiverem todos dizimados.

No final das contas, o suposto capital produtivo, ao primeiro sinal de crise, afundou-se ainda mais no poço da especulação financeira do qual nunca saiu. E de lá passou a morder a mão que lhe deu de comer até devorar-lhe o corpo inteiro.

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2 comentários:

  1. Muito boa análise, concordo com tudo, só que temos de ver um jeito de como fazer essas lutas. Não tinha conhecimento de que o governo Bolsonaro iria priorizar a luta econômica. Isso é ruim para a esquerda, mas era o que previa que seria a melhor saída para a burguesia. Quando escrevi um texto analisando o início do governo Bolsonaro apontei exatamente isso, achava que o ele poderia recuar das suas propostas conservadoras de ordem moral para avançar nas propostas econômicas. É essa a preocupação da burguesia no momento. Evitando o economicismo e tudo aquilo que comenta, como combater esse governo sendo que ele vai priorizar são as reformas econômicas? Impossível não se colocar em oposição a isso como a crítica imediata a este governo. E, sejamos francos, é o que mais tem problemas de aceitação na base até mesmo das pessoas que votaram nele. É por aí que se organiza uma frente mais ampla de combate a este governo. A luta a favor das políticas ditas identitárias continuam, apontando a sua relação com as de natureza econômica, indicando que o governo não abandonou o seu projeto reacionário, etc. Mas é outra frente.

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    1. O problema é que temos um longo caminho pra fazer e ainda temos que consertar as cagadas anteriores. Sim, as lutas contra as opressões (parece que o termo identitário costuma ser utilizado para caracterizar a infiltração neoliberal nessas lutas) formam outra frente, mas não deveriam estar desligadas da luta sindical, que seria aquela mais marcadamente econômica. Os salários menores para mulheres e negros deveriam passar a ser pauta obrigatória nas jornadas de luta, por exemplo. Não apenas correção salarial em geral, mas nivelamento dos salários. E as perseguições como racismo, machismo e homofobia deveriam se tratadas como formas de enfraquecer e derrotar a luta sindical, tanto como terceirizações, automação, fura-greves. Não como questões a cargo de secretarias específicas que não passam de “guetos” dentro da estrutura da grande maioria das entidades sindicais.

      Bração!

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