Doses maiores

19 de fevereiro de 2019

No lugar do lucro, a reciprocidade. Sim, é possível

Os defensores do capitalismo dizem que não há outro comportamento possível na vida em sociedade se não o individualista, competitivo, movido pelo lucro.

Em sua clássica obra “A grande Transformação”, Karl Polanyi mostra a falsidade dessa ideia. Aristóteles, lembra ele, já denunciava a produção voltada para o lucro “como não natural ao homem”

Em muitas sociedades tribais, afirma Polanyi:

...o valor atribuído à generosidade é tão grande em termos de prestígio social que faz com que qualquer outro comportamento que se afaste do altruísmo não seja compensador.

Cita como exemplo os trobriandeses, povo da Melanésia Ocidental, em cuja sociedade:

...a ideia de lucro é rejeitada, regatear é objeto de reprovação, a dádiva gratuita é aclamada como uma virtude e não se manifesta a propensão para negociar, permutar ou trocar umas coisas por outras. O sistema econômico é, na realidade, uma simples função da organização social.

Entre eles, o cerimonial mais importante é o “comércio do kula”. Trata-se de:

...um dar e receber organizado de objetos de valor transportados por longas distâncias pode e deve ser apropriadamente descrito como comércio. E todavia, todo este complexo é governado exclusivamente em termos de reciprocidade.

O ritual “cobre centenas de quilómetros e várias décadas, ligando centenas de pessoas em torno de milhares de objetos estritamente individuais”. Tudo sem livros de registro, administração, lucros ou negócios.

Sociedades como a trobriandesa existiram e existem muitas. Nelas vigora a reciprocidade no lugar da “propensão para a troca”. Ainda daremos um jeito de trocar a primeira pela segunda. E a grande maioria da humanidade verá que só tem a lucrar muito com isso.

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