Os
defensores do capitalismo dizem que não há outro comportamento possível na vida
em sociedade se não o individualista, competitivo, movido pelo lucro.
Em
sua clássica obra “A grande Transformação”, Karl Polanyi mostra a falsidade
dessa ideia. Aristóteles, lembra ele, já denunciava a produção voltada para o
lucro “como não natural ao homem”
Em
muitas sociedades tribais, afirma Polanyi:
...o valor atribuído à generosidade é tão grande em
termos de prestígio social que faz com que qualquer outro comportamento que se
afaste do altruísmo não seja compensador.
Cita
como exemplo os trobriandeses, povo da Melanésia Ocidental, em cuja sociedade:
...a ideia de lucro é rejeitada, regatear é objeto de
reprovação, a dádiva gratuita é aclamada como uma virtude e não se manifesta a
propensão para negociar, permutar ou trocar umas coisas por outras. O sistema
econômico é, na realidade, uma simples função da organização social.
Entre
eles, o cerimonial mais importante é o “comércio do kula”. Trata-se de:
...um dar e receber organizado de objetos de valor
transportados por longas distâncias pode e deve ser apropriadamente descrito
como comércio. E todavia, todo este complexo é governado exclusivamente em
termos de reciprocidade.
O
ritual “cobre centenas de quilómetros e várias décadas, ligando centenas de
pessoas em torno de milhares de objetos estritamente individuais”. Tudo sem
livros de registro, administração, lucros ou negócios.
Sociedades
como a trobriandesa existiram e existem muitas. Nelas vigora a reciprocidade no
lugar da “propensão para a troca”. Ainda daremos um jeito de trocar a primeira
pela segunda. E a grande maioria da humanidade verá que só tem a lucrar muito
com isso.
Leia
também:
A turbulenta infância da
espécie humana
Nenhum comentário:
Postar um comentário