Doses maiores

17 de dezembro de 2019

Eleições britânicas: sobre trincheiras e tumbas

É possível tirar diferentes lições da derrota dos trabalhistas ingleses nas últimas eleições. Mas a maioria dos comentaristas da grande mídia prefere tirar uma só: se o partido liderado por Jeremy Corbyn tivesse moderado suas propostas, a vitória seria possível.

Quase não se fala da avalanche de calúnias contra Corbyn nas redes virtuais e da cobertura abertamente negativa que a grande imprensa dedicou a sua candidatura.

Boris Johnson é um racista, homofóbico, misógino, mentiroso. Mas Corbyn teve que passar a campanha toda se defendendo de acusações de antissemitismo apenas porque apoia a causa palestina.

Poucos analistas levaram em conta o fato de que o radicalismo dos trabalhistas resumiu-se a retomar o programa do partido de 40 anos atrás, utilizado naquele momento para neutralizar a esquerda radical.

As dificuldades dos trabalhistas em lidar com o Brexit também pesaram muito, claro. Mas a verdade é que mesmo na decantada “democracia britânica” já não há o menor espaço para qualquer proposta que apenas reduza a velocidade da marcha neoliberal rumo à catástrofe econômica para a grande maioria.

Muito provavelmente, uma vitória trabalhista com base em um programa moderado só levaria a mais moderação durante o exercício do mandato. Portanto, a novas frustrações e ao rápido retorno da direita à chefia do governo.

O fato é que a disputa eleitoral se revela cada vez mais como aquilo que sempre foi: elemento meramente tático. Estratégica, mesmo, somente a aposta na presença cotidiana da militância junto à luta dos explorados e oprimidos.

A disputa eleitoral deveria ser apenas uma trincheira tão importante quanto provisória. Mas pode tornar-se tão definitiva quanto uma tumba.

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2 comentários:

  1. Camarada, sobre as eleições britânicas, uma coisa me deixou intrigado: se a sociedade estava rachada em relação ao BREXIT e ao governo de Boris Johnson, como o mesmo ganhou com toda essa folga? Não vi nada comentando sobre isso. Poderia discorrer?

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    1. Ao que parece, foi uma coisa do tipo "antes um fim com terror que um terror sem fim". Os trabalhistas teriam sido muito dúbios em relação ao Brexit. A população teria resolvido dar um basta definitivo nessa confusão. E parte da base tradicional dos trabalhistas (operários mais velhos, etc) votou nos conservadores devido a isso. E tem que levar em conta também uma certa sabotagem dos setores neoliberais no interior do Partido Trabalhista (o "newlabor"). Enfim, mais confusão...

      Abraço!

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