Os vales frutíferos da
Califórnia serviram de cenário para “Vinhas da Ira”. Este belo livro de John
Steinbeck relata a revolta dos trabalhadores dos pomares contra sua super-exploração,
nos anos 1930.
Nos anos 1970, nesse mesmo
cenário, começava a surgir o Vale do Silício. Em 1971, a Intel lançou o
primeiro “microprocessador”. Trinta anos depois, a empresa valia mais que as três
grandes montadoras de Detroit juntas.
Escritórios charmosos,
cheios de jovens talentosos, contrastavam com as pesadas estruturas executivas
da indústria tradicional. Mas ali também o capital gerencia a produção de
softwares pelos métodos taylorista, fordista e toyotista.
Surgiu o "proletariado
da programação", cuja capacidade de definir, modificar, criar e contestar
o determinismo tecnológico é expropriada deles para ser investido nas grandes estruturas
que os empregam.
O trabalho desse novo "proletariado
", no entanto, tem por base uma exploração muito pior. Nas fábricas de
eletrônicos, tarefas exaustivas e mal pagas são executadas por minorias étnicas
e mulheres. Nos escritórios refrigerados, predominam os homens brancos.
Terceirizados e quarteirizados,
trabalhadores são contratados e despejados a qualquer momento. Mesmo entre os funcionários
administrativos, quem ousa contestar é demitido e colocado numa lista suja.
O trabalho doméstico
encomendado pelas poderosas do Vale paga tão pouco que acaba abrangendo famílias
inteiras, incluindo idosos e crianças.
A fabricação de semicondutores
envolve resíduos tóxicos. Mas o uso obrigatório de roupas protetoras é para impedir
que os produtos sejam contaminados pelos trabalhadores, não o contrário.
O relato acima se baseia
no livro “Cyber-Proletariat”, de
Nick
Dyer-Witheford. Mostra que nada mudou muito no Vale do Silício. Se restaram poucas
vinhas, sobram motivos para muita ira.
É Sergio, como sabe sou produto do "proletariado da programação", que já foi no surgimento uma "elite" e hoje é um proletariado sem consciência de ser.
ResponderExcluirNão li o livro, aliás nem sabia que o magnífico filme de John Ford foi adaptação do livro citado.
Seu (nosso?) consolo é que consciência proletária é o característica cada vez mais rara entre os trabalhadores. Eu li o livro antes de ver o filme. Os dois muito bons!
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