Doses maiores

19 de dezembro de 2019

O golpe de 2016 e algumas apostas arriscadas

Nos primeiros momentos após o golpe de 1964, a ditadura recém-implantada baixou uma série de medidas antidemocráticas e repressivas. Eleições foram anuladas, partidos fechados, mandatos cassados. Vieram o Sistema Nacional de Informações, a censura e a perseguição a intelectuais e artistas.

Um dos focos de possível resistência era o movimento sindical. Por isso, centenas de sindicatos dirigidos pela esquerda tiveram suas direções substituídas por interventores. Foram feitas 452 intervenções em sindicatos e 49 em federações e confederações, só no primeiro ano após o golpe. Até 1970, ocorreriam mais 200 delas.

O Comando Geral dos Trabalhadores teve 17 de seus lideres condenados a 184 anos de prisão, no total. Greves foram proibidas.

Três anos após outro golpe, o de 2016, os sindicatos seguem funcionando. Mas esvaziados. Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE, divulgados em recente reportagem da “Isto É”:

Em apenas um ano, 1,552 milhão de trabalhadores deixaram de ser sindicalizados em todo o Brasil. Em cinco anos consecutivos de reduções, os sindicatos já perderam 3,098 milhões de trabalhadores sindicalizados.

Não se pode descartar uma guinada ainda mais à direita no cenário político. Mas, por enquanto, o caráter gradual do golpe do impeachment vem sendo suficiente para ir desdentando a resistência popular. Ainda que as mortes no campo e periferias não tenham nada de graduais.

Lacerda e Juscelino apoiaram o golpe militar apostando em sua vitória nas eleições presidenciais que nunca aconteceriam. Hoje, políticos de direita fazem o mesmo. Compreensível. Preferem ainda menos democracia aos riscos representados por sua ampliação.

Incompreensível é que lideranças de esquerda arrisquem a mesma aposta.

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