Doses maiores

10 de dezembro de 2019

Contra o inimigo branco, aprender com os indígenas

Recentemente, o antropólogo Viveiros de Castro, da UFRJ, concedeu entrevista à AgênciaPública. Começou pela seguinte provocação:

O Brasil é um país que está sendo usado pelo sistema econômico mundial para fazer um experimento científico, que é: o quanto você pode ferrar uma população sem produzir uma insurreição sangrenta?

Mas outro tema importante foram as dificuldades da resistência indígena diante dos ataques dos brancos. Uma delas seria a ausência de “sistemas políticos piramidais com um líder fundamental” entre esses povos.

Nas sociedades indígenas, explica ele, “se você não está satisfeito com a aldeia, com o teu pessoal, você pega as tuas coisas, pega a rede e vai embora, faz a aldeia do outro lado”. É um sistema anárquico no melhor sentido.

Mas diante dos ataques cada vez mais ferozes contra seus direitos, surge a necessidade de “produzir lideranças”, afirma. Raoni, por exemplo, é um Kayapó, mas não representa apenas os Kayapó. Fala em nome de todos os povos indígenas. E isso “é uma coisa que vai um pouco na contramão da própria sensibilidade política indígena”.

Por outro lado, conclui ele, não tem outro jeito, “eles estão enfrentando um inimigo que os obriga a se unir”.

Essas contradições das lutas indígenas se parecem cada vez mais com as nossas, nas grandes cidades. É grande a repulsa em relação a direções centralizadas e organizações verticalizadas nas atuais frentes de luta. Mas as classes dominantes atuam de forma fortemente centralizada e vertical.

O inimigo branco também está nos obrigando a nos unir. E para descobrir a melhor maneira de fazer isso, seria altamente recomendável aprender com a resistência indígena.

Leia também:
O “tai chi chuan” da resistência indígena

2 comentários:

  1. Interessante desde o começo essa Pílula quando fala do nosso país ser o balão de ensaio das possibilidades de aplicar o capitalismo na sua necessidade de aprofundar práticas mais antisociais. Algo como o mercado fazer testes na cidade de Curitiba para o lançamento de seus produtos. Depois emenda com uma organização indígena anarquista, que não conhecia, e achei interessante.

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    1. Sim, o Viveiros é uma figura interessante. Mas esse anarquismo entre os ameríndios é conhecido há algum tempo. Uma obra que popularizou esse fenômeno foi "A sociedade contra o Estado", de Pierre Clastres, de 1974. Tem uma pílula antiga sobre isso: https://pilulas-diarias.blogspot.com/2012/04/aos-mestres-indigenas-com-carinho.html

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