Recentemente, o
antropólogo Viveiros de Castro, da UFRJ, concedeu entrevista à AgênciaPública. Começou pela seguinte provocação:
O
Brasil é um país que está sendo usado pelo sistema econômico mundial para fazer
um experimento científico, que é: o quanto você pode ferrar uma população sem
produzir uma insurreição sangrenta?
Mas outro tema
importante foram as dificuldades da resistência indígena diante dos ataques dos
brancos. Uma delas seria a ausência de “sistemas políticos piramidais com um
líder fundamental” entre esses povos.
Nas sociedades
indígenas, explica ele, “se você não está satisfeito com a aldeia, com o teu
pessoal, você pega as tuas coisas, pega a rede e vai embora, faz a aldeia do
outro lado”. É um sistema anárquico no melhor sentido.
Mas diante dos ataques
cada vez mais ferozes contra seus direitos, surge a necessidade de “produzir
lideranças”, afirma. Raoni, por exemplo, é um Kayapó, mas não representa apenas
os Kayapó. Fala em nome de todos os povos indígenas. E isso “é uma coisa que
vai um pouco na contramão da própria sensibilidade política indígena”.
Por outro lado,
conclui ele, não tem outro jeito, “eles estão enfrentando um inimigo que os
obriga a se unir”.
Essas contradições das
lutas indígenas se parecem cada vez mais com as nossas, nas grandes cidades. É grande
a repulsa em relação a direções centralizadas e organizações verticalizadas nas
atuais frentes de luta. Mas as classes dominantes atuam de forma fortemente
centralizada e vertical.
O inimigo branco também
está nos obrigando a nos unir. E para descobrir a melhor maneira de fazer isso,
seria altamente recomendável aprender com a resistência indígena.
Leia também:
O
“tai chi chuan” da resistência indígena
Interessante desde o começo essa Pílula quando fala do nosso país ser o balão de ensaio das possibilidades de aplicar o capitalismo na sua necessidade de aprofundar práticas mais antisociais. Algo como o mercado fazer testes na cidade de Curitiba para o lançamento de seus produtos. Depois emenda com uma organização indígena anarquista, que não conhecia, e achei interessante.
ResponderExcluirSim, o Viveiros é uma figura interessante. Mas esse anarquismo entre os ameríndios é conhecido há algum tempo. Uma obra que popularizou esse fenômeno foi "A sociedade contra o Estado", de Pierre Clastres, de 1974. Tem uma pílula antiga sobre isso: https://pilulas-diarias.blogspot.com/2012/04/aos-mestres-indigenas-com-carinho.html
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