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2 de março de 2023

Inteligência artificial: brincadeiras trágicas e nada eróticas

Em 17/02/2023, Pedro Dória publicou artigo no Globo mencionando o aplicativo Erotic Role Playing, que, na tradução do colunista, seria “Brincadeiras Eróticas”.

Disponível para iPhone ou Android, a versão gratuita oferece a modalidade amizade. Mas quem paga “pode transformar a relação em romance”. Não é um game, diz Doria. “O que as pessoas constroem com a inteligência artificial é intimidade real”.

Pessoas tímidas, solitárias, que por algum motivo perderam seu norte da vida, continua ele, encontrarão cada vez mais companhia em aplicativos desse tipo. Mas “vida, vida mesmo, acontece na relação com gente de verdade. A ilusão da inteligência artificial periga criar uma legião de imaturos incapazes de lidar com suas neuroses”, conclui corretamente o jornalista.

Tudo isso faz pensar no conceito marxista de fetichismo da mercadoria, segundo o qual, sob o domínio do capital, as relações humanas são cada vez mais intermediadas por coisas intercambiáveis.

O que na época de Marx ainda parecia muito abstrato, hoje está cada vez mais evidente. É um fenômeno econômico com sérias consequências para as relações sociais.

O pretexto é aliviar o sofrimento de milhões de solitários fabricados pela máquina insensível do capital. O resultado pode tornar tudo ainda mais falso, exceto quanto a sofrimento e dores, que se tornarão ainda mais reais e persistentes.

Coisas assim costumam levar a frustrações e ressentimento em larga escala. Elementos que estão entre as principais matérias-primas do fascismo. É o caso de muita gente cujas patologias foram agravadas pela internete. Estão sempre disponíveis para servir como soldados a serviço de racismo, homofobia, misoginia e outras doenças sociais.

Não é brincadeira, muito menos, erótica.

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