Uma característica importante do militarismo é a prontidão para atacar o
inimigo. Em princípio, um inimigo externo. Em casos como o brasileiro, porém, a
militarização do Estado prioriza o ataque a um inimigo interno. Mais precisamente,
aos pobres.
Uma das raízes deste processo foi a escravidão. Foi o medo da reação de uma grande
parte da população submetida ao mais vergonhoso e cruel cativeiro. Por isso, um
jornal carioca na virada do século 18 para o 19 dizia: “Precisamos de uma polícia
que a nós (referindo-se aos senhores) inspire confiança e aos escravos infunda
terror”.
Mas finda a escravidão, a extrema desigualdade social persiste e se aprofunda. A
polícia do estado de São Paulo, por exemplo, passa a se inspirar na doutrina adotada
pelo Exército Francês, em 1906.
Esta mesma polícia tem em seu brasão 18 estrelas. Cada uma representando uma
vitória militar. Delas, apenas uma lembra o combate a um governo. O de Getúlio
Vargas, em 1932. Todas as outras referem-se à repressão contra revoltas populares,
como a Rebelião de Canudos, Revolta da Chibata e a Greve Geral de 1917, em São
Paulo.
O conhecido instrumento de tortura chamado “pau-de-arara” não surgiu durante a
ditadura militar. Seu nome faz referência aos trabalhadores rurais que chegavam
do Nordeste nos anos 1950. Qualquer conduta considerada indevida pela polícia era
tratada como crime, punido com suplícios no “pau-de-arara”.
Estes exemplos mostram que a militarização da polícia não surgiu com a ditadura
empresarial-militar de 64. Esta apenas a aperfeiçoou, generalizou e a deixou
como herança intocada, que ainda despedaça almas e corpos de pobres e rebeldes.
Essas informações estão no livro “Desmilitarização da polícia e da política: uma resposta que
virá das ruas”.
Leia também: A criminalização da pobreza e sua
“policização”
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