A terrível crise por que passa a Grécia é tratada pelos
poderosos financistas da Europa como um problema técnico. Bastaria ao país adotar
as medidas recomendadas por eles para sair do atoleiro. Qualquer coisa
diferente é ideologia e politicagem, ainda que parta de um governo legitimamente
eleito.
Este discurso é repetido pela grande imprensa e
especialistas neoliberais. Entre estes últimos está Carlos Langoni, diretor do
Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas. Na edição do Globo de 02/07,
ele deu uma entrevista sobre a crise grega.
Referindo-se ao plebiscito sobre a aceitação das medidas
profundamente injustas e penosas que os credores querem impor ao país, Langoni diz
que “se o Syriza perder o plebiscito, as condições de um governo mais
conservador vão viabilizar a mesma proposta de agora”.
Ou seja, as medidas apresentadas pelos atuais dirigentes
gregos seriam aceitas se não viessem de um governo de esquerda cuja eleição se apoiou
em enorme mobilização popular. Como se vê, são os neoliberais que se apoiam em
politicagem e ideologia barata.
A atitude lembra o posicionamento Henry Kissinger quando era
Secretário de Estado do governo Nixon. Ao justificar a derrubada de Allende no
Chile, ele afirmou: “Não vejo por que temos de ficar parados enquanto um país
se torna comunista pela irresponsabilidade de seu povo”.
Agora, como antes, a democracia é apenas um detalhe.
Qualquer que seja o resultado do plebiscito grego, o
cenário ficará ainda mais politizado e ideologizado. Diante de um novo governo conservador
ou do atual, reforçado, caberá aos movimentos e partidos de esquerda defender nas
ruas a democracia que nelas construíram.
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