Doses maiores

4 de maio de 2016

O partido dos tamanduás

As causas que levaram o PT à terrível crise por que vem passando precisam ser debatidas pelo conjunto da esquerda.

Uma ótima contribuição nesse sentido é a tese de doutorado de Eurelino Coelho, “Uma esquerda para o capital”, defendida em 2005 e transformada em livro em 2012.

O estudo mostra a gradual transformação do PT de partido de contestação da ordem em seu dedicado defensor. Um importante elemento nessa trajetória seria o abandono do princípio da independência de classe.

Em 1981, por exemplo, com apenas um ano de existência, o PT era assim descrito em um cordel elaborado por militantes do Piauí:

Um partido que é do povo/ sem pelego, sem patrão/ sem luxo, sem mordomia,/ sem furto, sem corrupção/ onde não se compra voto/ e nem se vende ilusão.
Existem outros partidos/ todos da “oposição”/ e por trás de cada um/ está oculto um patrão/ cuidado trabalhador:/ escute, preste atenção.

No mesmo ano, o setor agrário do PT de Minas Gerais lançou uma cartilha em quadrinhos com o título “Partidos das Formigas (Tamanduá não entra)”.

Na campanha eleitoral de 1982, diz o texto, vários candidatos petistas em todo o país distribuíam panfletos de campanha que diziam “Quem bate cartão, não vota em patrão”.

Como se sabe, hoje a situação é bem diferente.

Claro que esse não é o único elemento a explicar a atual situação vergonhosa do partido. E, realmente, o estudo de Coelho vai muito além disso. Por isso, vale a leitura.

Mas o fato é que, mesmo que ainda restem algumas formigas nas bases petistas, o partido está entregue aos tamanduás.

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6 comentários:

  1. Ja fui do Pt e muita coisa realmente mudou..mas voce acha que o PSol é realmente uma alternativa diferente:Tem militante de base , das lutas comunitárias na direção?Existe democracia participativa?Uma liderança ou referencia de base , pobre pode ser candidato e o partido assume a campanha?Qual é proporção entre capas pretas e base?Existe formação politica ?Mulheres negras homens negros e jovens estão presentes nas instancias de direção? Sabe de algum partido que tem prática democratica participativa , inclusiva?

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  2. Cleonice, estou afastado da militância no PSol faz algum tempo. Mas sei que foram feitos muitos esforços no sentido de responder afirmativamente às perguntas que você faz. O problema é que esse perfil inclusivo, democrático, participativo não se viabiliza somente a partir de boas disposições políticas. Há uma série de limitações estruturais de que é difícil nos livrar. E o PSol também herdou muito do que aconteceu no PT, para o bem e para o mal. Há uma preocupação com a participação da base, mas também muita dependência em relação às estruturas de mandatos e dos aparatos sindicais ainda. Acho que o surgimento de uma organização partidária como o PT das origens somente seria possível em um novo ascenso de lutas, ainda assim, criando suas próprias formas originais de organização e participação. Trata-se de saber aproveitar ou não momentos que a luta de classes nos oferece.
    Obrigado por seu comentário
    Abraço

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  3. Oi mano, segue uma sugestão de trilha sonora para ler esse artigo: https://www.youtube.com/watch?v=Uk_B6b78ELI

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  4. Parabéns pelo blog.
    Essa cartilha em quadrinhos com o título “Partidos das Formigas (Tamanduá não entra)”. você tem um exemplar? alguém?? Seria legal disponibilizar aqui, um link, etc.

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  5. Infelizmente, não Deoclecio. Só ouvi falar dela pelo texto do Eurelino. Tentei procurar na internete, mas não achei.
    Obrigado pelo apoio.
    Abraço!

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