Uma das funções das Ciências Sociais
é desmascarar a naturalidade e a fixidez da vida social. Nada nas relações
humanas é necessário e imutável. Tudo é produto das ações humanas. Portanto,
está ao nosso alcance mudar as condições que criam situações de injustiça social.
É por isso que as Ciências Sociais costumam
ser tão antipáticas aos poderosos.
A ideia de maternidade natural, por exemplo, parece
algo incontestável. Mas não é. É o que mostra o artigo "Conceito de mãe é
amplo para indígenas", de Izabel Santos, publicado no portal Amazônia.
O texto cita o antropólogo da Universidade Federal do
Amazonas, Carlos Machado. Segundo ele, "a ideia de mãe” é mais nossa que
dos indígenas. Para muitos desses povos, a mãe é uma figura difusa. Existe a
gestação, o nascimento, o aleitamento, claro. Mas passada estas fases, as funções
maternas vão além da genitora.
Machado afirma que o papel da mãe:
...é quase uma coisa genérica. Para
se ter uma ideia, em alguns povos, o termo usado para mãe é o mesmo usado para
a irmã da mãe. Assim, se a criança tiver nove tias, na verdade ela tem dez mães.
Mas isso seria melhor ou pior que nossa tradição
parental? Depende. Em geral, nossa sociedade individualiza a função materna nas
mulheres para transformá-las em “escravas do lar”, acorrentadas a uma pretensa vocação
natural para a procriação.
É uma das principais justificativas não apenas para a imposição
de jornadas de trabalho exaustivas às mulheres, mas para todo tipo de violência
física e simbólica. É preciso ser mãe amorosa, profissional exemplar, bonita e
feliz. Padecer, só no paraíso.
Leia também: Ser
mãe é padecer. Raramente, no Paraíso
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