“Suas bichas, vou atirar em vocês!". Esta frase não
está relacionada ao recente massacre ocorrido em uma boate gay, em Orlando,
Estados Unidos. Foi berrada em Recife e se dirigia ao publicitário Marlon
Parente e um grupo de amigos.
O episódio levou Parente a juntar seis amigos
homossexuais para produzir "Bichas, o documentário". Concluído em tempo
recorde e custo zero, o vídeo está disponível no youtube e já alcançou 490 mil
visualizações.
O documentário permite conhecer uma pequena, mas
importante, parte dos conflitos que envolvem a subjetividade homoerótica.
Principalmente, o preconceito e a violência física e simbólica que a cercam.
É o tipo de produção que deveria ser amplamente divulgada
pelos meios de comunicação. No lugar dos casais gays bonitos e ricos das
telenovelas, um pouco da realidade massacrante do país que é campeão mundial de
violência homofóbica.
Mas a matança que vitimou pelo menos 50 pessoas em
Orlando tem servido de pretexto para tudo, menos para a discussão da condição
homossexual.
Não faltam descrições detalhadas das armas utilizadas
pelo assassino e da biografia do assassino. Sem falar em debates vazios sobre controle
de armamentos.
Não à toa, já começam a dizer que o próprio assassino era
homossexual, transformando tudo em um drama restrito ao “mundo doentio dos gays".
Enquanto isso, a programação de TVs e rádios espalha
diariamente preconceitos que reforçam a homofobia e as estruturas policial e judiciária
só sabem punir ainda mais suas vítimas.
Entre bichas e armas, os aparelhos de dominação públicos
e privados perseguem e ridicularizam as primeiras para torná-las alvos fáceis
das últimas. Orlando também é aqui.
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